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‘Paradigma de que o carro brasileiro é ultrapassado vai desaparecer’

Segundo o presidente da Ford Mercosul, País está cada vez mais inserido na criação de produtos globais, o que deve mudar o mercado

Por Rafaela Borges
Atualização:

A próxima geração do EcoSport, primeiro produto mundial desenvolvido inteiramente pela Ford no Brasil, está mudando o dia a dia da subsidiária brasileira da montadora. Antes uma operação regional, especializada em fazer carros para a América do Sul, a filial passou a ficar permanentemente conectada, via satélite, como os outros quatro centros globais do grupo Ford, nos EUA, Austrália, Inglaterra e Alemanha. Além disso, é grande o intercâmbio de pessoas em todos os departamentos, da engenharia à área financeira, passando por marketing e comunicação. "Temos muito profissionais estrangeiros aqui, participando do desenvolvimento, e outros tantos brasileiros trabalhando temporariamente nos países em que o EcoSport será vendido", diz o presidente da Ford Mercosul, Marcos de Oliveira.

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De acordo com o executivo, esse intercâmbio permite o desenvolvimento mais rápido e eficaz aos profissionais da Ford do Brasil, na medida em que eles compartilham conhecimento com diversas áreas em todo o mundo. A Ford não é a primeira a desenvolver um carro global no Brasil que será produzido e vendido em diversos países. Nos próximos meses, chega ao mercado a próxima S10, fruto do trabalho do centro de desenvolvimento de produtos da GM de São Caetano do Sul.

Esses processos mostram que o Brasil não é apenas um importante mercado consumidor e produtor de carros, mas caminha para se transformar em referência em engenharia, de acordo com os executivos das principais montadoras. "O paradigma de que o carro brasileiro é ultrapassado vai desaparecer. Estaremos em dia com o mundo", diz Oliveira.

O projeto One Ford visa globalizar todos os carros da marca, deixando de lado os modelos regionais. Quais são as vantagens desse plano?

Com o One Ford, reunimos o que há de melhor em cada uma de nossas operações para oferecer aos consumidores. Podemos fazer uma engenharia para o mundo todo, o que significa mais produtos e escala de produção mais eficiente, pois há unidade também entre os fornecedores. Os processos de desenvolvimento de produtos tendem a ficar mais rápidos e os carros, mais acessíveis.

E quais são as vantagens para o consumidor?

O paradigma de que não apenas o carro brasileiro, mas o carro para países emergentes, é ultrapassado, vai desaparecer. De agora em diante, o consumidor brasileiro terá acesso às melhores tecnologias.

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O Brasil abriga um dos cinco centros de desenvolvimento de produtos da Ford no mundo. Como isso está transformando a subsidiária nacional?

Há uma transformação grande na Ford do Brasil, que antes trabalhava de forma regional, desenvolvendo produtos para a América do Sul. Agora, desenvolvemos produtos para o mundo e o primeiro desafio é alinhar nossas operações de forma transparente. Por isso, estamos conectados de maneira permanente, via satélite, aos nossos outros quatro centros de desenvolvimento - na Inglaterra, Alemanha, EUA e Austrália. Mas, no projeto do novo EcoSport, o contato face a face é importante e temos grande intercâmbio de pessoas. Há muitos estrangeiros aqui e muitos brasileiros trabalhando nos países em que o carro será vendido.

Quantas pessoas estão envolvidas nesse intercâmbio?

Não posso revelar, mas é um intercâmbio muito vantajoso. Ter estrangeiros atuando aqui por um período de tempo, assim como brasileiros no exterior, permite entender a necessidade de outros mercados e amplia o conhecimento de nossos profissionais. Com isso, temos profissionais melhores e de maneira mais rápida.

Em quais países o novo EcoSport será vendido?

Além dos mercados em que é vendido hoje, todos latino-americanos, pelos menos outros cinco receberão o novo carro.

Quais? Todos emergentes?

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Vamos revelar em breve quais serão esses países. Não são todos emergentes. Com o One Ford, o que será vendido aqui também será oferecido na Europa e nos EUA, por exemplo.

Atualmente o EcoSport é produzido somente em Camaçari, na Bahia. Continuará sendo assim?

Não, o EcoSport será produzido também em fábricas no exterior. Mas ainda não podemos divulgar quais são.

Os investimentos para o desenvolvimento do carro são somente da Ford do Brasil?

O custo é compartilhado por todos os países que vão vendê-lo. Já a produção e o desenvolvimento de cada fornecedor é da própria operação. Assim como o investimento que estamos fazendo para ampliar e modernizar nossa engenharia e nossas fábricas. Como o grupo Ford registra 30 trimestres consecutivos de lucro, temos capacidade para investir em nossos produtos com recursos próprios.

Falando de produto, a base do EcoSport é a do novo Fiesta (carro global cuja versão hatch feita no México acaba de ser lançada no Brasil)?

Sim, mas com muitas adaptações necessárias para se construir um utilitário-esportivo - adaptações feitas pela engenharia brasileira.

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E quanto ao desenho? Ele utilizará elementos do Evo, protótipo mostrado no Salão de Frankfurt (Alemanha), no mês passado?

Assim como ocorreu há alguns anos com o protótipo Verve, o Evo mostra a diretriz de design que será usada pela Ford em todo o mundo daqui em diante. O EcoSport terá diversos elementos do Evo em seu desenho.

Por enquanto, temos apenas a família Fiesta (mexicana) alinhada aos modelos mundiais da Ford. Quando isso vai mudar?

Até 2015, vamos concluir no Brasil o plano One Ford, que consiste na renovação de 100% de nossa linha de produtos. Todos serão mundiais e alinhados com os modelos vendidos em outros países. A partir de 2012, teremos muitos lançamentos de carros globais aqui (feitos no País e também importados).

Você disse que, depois do EcoSport, o Brasil trabalhará no desenvolvimento de outros produtos. Pode ser um compacto, sucessor do Ka, já que o País tem grande experiência nesse tipo de veículo?

Hoje, entre os centros de desenvolvimento da Ford, o brasileiro e os europeus são os que têm grande conhecimento em carros compactos.

Então, o compacto pode vir de um dos centros europeus?

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Sim.

E um carro compacto desenvolvido por europeus não seria muito caro para o Brasil?

Isso era verdade no passado, mas não agora. Antes, era preciso pensar em como deixar um carro já pronto mais barato para ser vendido em um mercado emergente. Agora isso não acontece mais, pois as particularidades de cada mercado são consideradas no desenvolvimento de cada produto. Não há mais necessidade de adaptações.

O aumento do IPI em 30 pontos porcentuais para importados tem, de acordo com o governo, o objetivo de preservar empregos na indústria nacional e possibilitar o incremento do investimento em tecnologia para melhorar os produtos. O sr. acredita que o carro brasileiro ficará melhor sem a concorrência estrangeira?

Não creio que não haverá competição estrangeira. Ao contrário, os importados terão de ser competitivos dentro da realidade do Brasil. Independentemente da alíquota do IPI, a realidade é inexorável: o País está migrando para carros de mais alta tecnologia, e isso não tem volta. A legislação está mudando. Ficará mais rigorosa com crash tests e haverá obrigatoriedade de air bags e ABS. As plataformas globais que a Ford usará aqui são um ótimo exemplo disso. Aqueles que querem vender terão de desenvolver estratégias para ser competitivos aqui.

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