Mais uma vez a China alertou os EUA a protegerem os interesses dos investidores. Agora foi a vez da Administração Estatal do Câmbio Externo (Safe, na sigla em inglês) da China fazer a recomendação, ecoando o pedido do porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hong Lei, feito na semana passada. Na ocasião, Lei alertou que Washington deveria adotar "uma apolítica responsável e medidas para garantir o interesse dos investidores".
A Safe destacou as opiniões das agências de classificação de risco, como a Standard & Poor's e a Moody's, que na semana passada colocaram a nota de risco (rating) dos EUA em observação para possível rebaixamento - ou seja, os Estados Unidos podem perder o status de confiança máxima. Caso isso seja feito, os custos dos empréstimos tomados pelos EUA aumentarão fortemente, piorando a já difícil posição fiscal do país.
Mais que isso, um corte no rating dos EUA provocaria uma onda de choque nos mercados financeiros do mundo, que há muito tempo consideram a dívida norte-americana entre os investimentos mais seguros. A China é o maior detentor de dívida dos EUA no mundo, com um montante de US$ 1,16 trilhão em maio.
Pequim tem alertado que o grande estímulo à economia implementado pelo governo norte-americano depois da crise global levaria a um forte crescimento na dívida que acabaria com o valor do dólar e dos títulos da dívida americana.
Prazo. A preocupação dos chineses cresce enquanto os legisladores norte-americanos discutem um plano para reduzir os gastos do país e elevar o teto da dívida americana - hoje em US$ 14,3 trilhões. O problema é que o endividamento dos americanos chegou ao seu patamar máximo e novas dívidas vencem no dia 2 de agosto e não há dinheiro para cumprir os pagamentos.
Na noite de terça-feira, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou, por 234 votos a 190, um plano que para elevar o teto da dívida e evitar o calote. Esse não o plano defendido pelo presidente americano, Barack Obama, e ainda corre o risco de ser barrado pelo Senado, onde ainda será votado, ou ser vetado por Obama.
O plano, formulado pelo partido Republicano, permitirá a elevação do teto da dívida dos EUA em US$ 2,4 trilhões, caso o Congresso concorde com um corte de gastos de US$ 111 bilhões no próximo ano; limite os gastos nos próximos anos a uma determinada porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) e aprove uma emenda à Constituição referente ao orçamento
Credores. Dados do Tesouro americano mostram que o Brasil foi o país que registrou o segundo maior aumento em aplicações em títulos do governo dos Estados Unidos no último ano, somente atrás da China.
Em maio, último dado disponível, o Brasil tinha US$ 211,4 bilhões (cerca de R$ 333 bilhões) aplicados em títulos do governo americano, valor que representa crescimento de 30,89% em um ano e mantém o Brasil como quinto maior credor externo dos Estados Unidos - atrás de China, Japão, Grã-Bretanha e um grupo de países exportadores de petróleo.
Entre os 10 principais credores, o Brasil foi o que registrou o segundo maior crescimento entre maio de 2010 e maio de 2011. No mesmo período, a China aumentou em 33,6% sua compra de papéis do governo americano, chegando a US$ 1,16 trilhão, mais de um terço de suas reservas internacionais.
No caso do Brasil, o valor aplicado nesses títulos representa quase dois terços das reservas internacionais, de US$ 340 bilhões.
O aumento das aplicações brasileiras em títulos do Tesouro americano vem acompanhando o crescimento das reservas do país. Em dezembro de 2004, com as reservas brasileiras em US$ 50 bilhões, o país tinha um total de US$ 15,2 bilhões em títulos da dívida americana. Em dezembro de 2007, quando as reservas já chegavam a US$ 178 bilhões, as aplicações em títulos estavam em US$ 129,9 bilhões.