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Selfies e hashtags selam casamentos na era digital

Os fotógrafos profissionais detestam, mas os smartphones transformaram as cerimônias em festas de imagens com filtro, comentários em 140 caracteres e marcas como #ElesViveramFelizesParaSempre

Por Nick Bilton
Atualização:
Casamentos com hashtag selados com muitas selfies Foto: NYT

Bem-vindos ao seu primeiro Casamento 2.0.

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Lá vem o noivo. Ah, vejam, ali está a noiva. Linda, não? O timbre do órgão começa a preencher a sala. Tudo como seria de se esperar. Mas espere, fica ainda melhor. "Queridos presentes, estamos aqui reunidos hoje para celebrar o matrimônio deste homem e desta mulher", diz o padre, rabino ou pastor. "Noiva e noivo pedem a vocês que usem a mesma hashtag nas fotos compartilhadas no Instagram, Twitter e Facebook."

Já passei por variações dessa situação em muitos casamentos recentes. Em outras ocasiões, as hashtags são escritas no programa do casamento, nos arranjos das mesas ou sussurradas de ouvido em ouvido. O restante da noite se torna um vale-tudo digital: fotos quadradas e supersaturadas do bolo publicadas no Instagram; momentos de conversas entre os convidados resumidos em pérolas de 140 caracteres no Twitter; e fotos do casal feliz, tiradas de todos os ângulos imagináveis (incluindo selfies), compartilhadas no Facebook.

Uma tradição que pouco mudou desde o casamento da avó da nossa avó foi submetida agora à máquina de lavar das mídias sociais. E os planejadores de casamentos, fotógrafos, noivas, juízes de paz e sacerdotes tentam entender o significado de tudo isso.

#Casamento. Alguns meses depois de ir ao meu primeiro #casamento, fui convidado para uma cerimônia mais tradicional (pois é, estamos na temporada dos casamentos) e, dias antes do evento, a noiva mandou um recado claro a todos os convidados. "Por favor, não queremos nada publicado na rede", escreveu ela, sublinhando que os celulares seriam proibidos, sem exceções. "É claro que vocês podem pintar aquarelas ou retratos de ilustrador de tribunal, se assim desejarem", acrescentou a noiva, bem-humorada, obviamente tentando parecer menos mandona.

Aquele evento, sem celulares, foi maravilhoso. Durante a cerimônia as pessoas bateram palmas (com as duas mãos) enquanto a noiva flutuava pelo corredor. Os convidados ouviram o sermão atentamente. No jantar, as pessoas fizeram algo estranho: conversaram umas com as outras. Usando as bocas, não as mensagens de texto nem os emojis.

Mas, por mais lindo que fosse o casamento analógico, vi muitos sujeitos se escondendo no banheiro para checar o e-mail ou saber os placares da Copa do Mundo. No final da noite, encontrei um grupo de convidadas tentando se esconder atrás de uma barraca para tirar uma selfie juntas. (Uma delas me contou, orgulhosa, que tinha trazido o smartphone escondido no sutiã.)

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A proibição aos dispositivos é compreensível. As noivas que optam por cerimônias sem aparelhos me disseram que não querem caminhar em direção ao altar vendo seus entes queridos assistindo a tudo por meio de telas.

Para os fotógrafos, os convidados com celulares criam problemas ainda maiores. O fotógrafo de casamentos Jose Villa, de Solvang, Califórnia, disse que as fotos antes protagonizadas por convidados sorridentes agora são cheias de pessoas olhando para seus celulares. "Antes, as pessoas tiravam uma foto e guardavam a câmera, assim como ocorria quando os convidados traziam câmeras com filme", disse ele. "Agora, eles tiram uma foto, acertam o enquadramento, escolhem um filtro, compartilham a imagem no Instagram e então passam o resto da noite verificando quantas curtidas a foto já recebeu."

E não são apenas os convidados que se empenham com tudo nas fotos de casamento. Noiva e noivo são, com frequência, os piores, tirando suas próprias fotos para compartilhar na internet. "Comecei a recolher os celulares dos clientes, que guardo comigo até o fim da noite", disse Villa. Para alguns casais, o custo de um fotógrafo de casamentos, que pode ficar entre US$ 6.000 e US$ 15.000, pode ser alto demais, o que os leva a optar pelas fotografias nas mídias sociais. Mas isso confere muita responsabilidade à tia Gertrudes e ao restante dos convidados.

Uma dama de honra que pediu para não ser identificada por medo de ofender a melhor amiga recebeu o pedido de promover uma hashtag entre os convidados, mas assumiu a responsabilidade de evitar um possível desastre.

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"É muita pressão", disse a dama de honra. "Assim sendo, em vez de passar a noite inteira tentando capturar o momento perfeito, e nos sentindo péssimas caso o perdêssemos, todas as damas de honra fizeram uma contribuição para contratar um fotógrafo profissional como presente de casamento." O que devem as noivas e noivos fazer? Taguear ou não taguear, eis a questão.

"No momento, temos os casamentos desplugados e os casamentos totalmente plugados", disse a planejadora de casamentos Cassandra Santor, de Los Angeles. Ela sugere que haja uma concessão mútua: "O melhor parece ser uma cerimônia desplugada seguida por uma festa plugada". A designer Portia Wells, de Los Angeles, que se casou este ano, e o marido, Mark Trammell, fizeram isso quase por acaso. Depois de um longo debate, o casal decidiu pedir educadamente aos convidados que não usassem seus celulares durante a cerimônia, mas não definiram regras para o jantar nem para a festa.

Na manhã seguinte ao casamento, os recém-casados acordaram em sua suíte do hotel Canary, em Santa Barbara, Califórnia. Portia olhou animada para o marido e disse, "Vamos ver se achamos alguma foto do casamento na internet".

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Eles pegaram seus laptops e celulares e começaram a procurar. Para a surpresa dos dois, o casal encontrou uma hashtag, #tramwells, que tinha sido organizada pelos convidados ao longo da noite. "Achamos uma porção de fotos e vídeos incríveis online, todos sob a mesma hashtag", disse Portia. "Vimos fotos que nenhum profissional poderia ter capturado: imagens lindas capturadas a partir de uma perspectiva completamente diferente."

E #ElesViveramFelizesParaSempre.

Tradução de Augusto Calil

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