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Terno de luxo tem até pó de diamante

Grifes europeias tentam ganhar aura de produto de luxo em países emergentes

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Por Fernando Scheller
Atualização:
Combinação. Saraiva, do Habib's: dez ternos novos por ano e 170 combinações de 'looks' Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Olhando bem de perto, o tecido da Scabal para ternos com pó de diamante não chega exatamente a brilhar. A opção com aroma de orquídea cheira a nada. No mundo dos ternos de luxo, no entanto, o que importa não é exatamente o ser, mas parecer, explica Olivier Vander Slock, diretor de vendas da Scabal, marca belga que ganhou fama por sua fábrica de tecidos exclusivos e pela loja na Savile Row, em Londres. À medida que se expande para mercados emergentes, como o Brasil, a marca não pode só oferecer costumes sob medida perfeitamente cortados. Precisa ganhar ares de produto de luxo.

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A Scabal - que é considerada referência em tecidos para roupas masculinas, ao lado da britânica Dormeuil e da italiana Loro Piana - oferece nada menos do que 4 mil opções de tecidos para deixar o homem mais confortável. Na Europa, explica Vander Slock, um terno sai por cerca de A 1,3 mil (cerca de R$ 4 mil). Os impostos de importação fazem o mesmo terno custar aqui R$ 8 mil. Isso para o produto feito na Alemanha, considerado “standard”. Para os conjuntos italianos - chamados de número 12 -, o preço mínimo ficará em R$ 14 mil. As medidas dos clientes brasileiros são enviadas à unidade europeia escolhida. A espera mínima é de cinco semanas. Para emergências, há um serviço “express” - cobrado à parte.

No Brasil, a Scabal é representada pelo alfaiate Vasco Vasconcellos, que já passou pelas lojas Brooksfield e pela Camargo Alfaiataria. Segundo o diretor da Scabal, a associação com alfaiates locais é essencial: são eles, afinal, que desenvolvem relações de longo prazo com os clientes. São eles também que vão convencer e orientar empresários, artistas e políticos endinheirados a gastar um pouco - ou muito - mais por uma pitada e sofisticação. O trabalho do alfaiate começa bem antes da fita métrica e dos alfinetes.

No caso de Vasconcellos, muitas vezes, chega a ser consultoria de moda. É como ele trabalha, por exemplo, com o fundador e presidente da rede de fast-food Habib’s, Alberto Saraiva. O empresário, que fatura R$ 2 bilhões anualmente, confecciona cerca de dez ternos por ano - toda vez que manda fazer uma nova coleção, distribui o lote antigo a funcionários.

Para que Saraiva faça o melhor uso das roupas que tem - e são muitas -, Vasconcellos desenvolveu um guia de 170 combinações. O empresário conta que, todos os dias, sua empregada separa três “looks”. “Eu escolho um dos que estão pendurados no closet e saio para trabalhar”, conta.

Saraiva, 62 anos, conta que dispensa as “firulas”, como o acabamento com fio de ouro, mas gosta que os modelos sejam confeccionados para mostrar bem sua coleção de relógios. “Para o Alberto, faço sempre cinco botões em cada manga. Na mão do relógio, sempre deixamos dois abertos. Assim aparece”, explica o alfaiate.

Aprendizado. Antes de abrir a própria alfaiataria, no início deste ano, Vasconcellos trabalhava para a Camargo, de João Camargo. Com duas lojas em São Paulo e uma prestes a ser reaberta em Brasília, Camargo veste empresários como Maurício de Sousa - que já até desfilou para a marca - e o fundador da CVC, Guilherme Paulus.

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Embora um alfaiate tente adaptar a roupa a qualquer corpo, Camargo diz que o cliente pode ajudar no caimento da conjunto - especialmente no caso de casamentos, um de seus principais mercados. “Não dá para mentir. Uma roupa cai melhor em um corpo magro”, diz o alfaiate. “Teve um caso de um noivo que perdeu 3,5 quilos uma semana antes do casamento. O terno ficou perfeito.” Como a fabricação de Camargo é própria, seus costumes sob medida custam a partir de R$ 5 mil; mas o tecido super 180, o preferido de muitos empresários, sai por cerca de R$ 25 mil.

Enquanto Vasconcellos foi funcionário de Camargo, Camargo trabalhou para uma das referências em moda masculina no País, o estilista Ricardo Almeida. Hoje, o terno sob medida representa uma parte menor do negócio - que tem 12 lojas -, mas o estilista, que já deu consultoria de moda ao senador Aécio Neves e ao ex-presidente Lula, não abandonou por completo o costume personalizado.

“Faço um terno sob medida a partir de R$ 4 mil. É a vantagem de produzir em escala, dá para fazer mais barato”, diz o estilista. No entanto, se o cliente exigir que o próprio Ricardo Almeida tire as medidas, ele avisa que o preço combinado é automaticamente dobrado.

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