PUBLICIDADE

WTorre tenta, de novo, reestruturar seu negócio

Com dívida de cerca de R$ 1,5 bilhão, da qual R$ 1 bilhão em ativos dados em garantia a bancos, Walter Torre Jr. voltará às suas origens

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

O grupo WTorre deu início a um novo processo de reestruturação – o terceiro em um período de dez anos – para tentar se reerguer e atravessar a crise que se abateu sobre a construtora nos últimos dois anos. A companhia, que teve seu nome citado no ano passado nas operações Lava Jato e Greenfield, renegocia com bancos dívidas de R$ 1,5 bilhão e trocou, há duas semanas, de comando. Walter Torre Júnior, fundador e presidente do conselho de administração do grupo, voltou ao dia a dia e está repensando a estratégia da empresa, que deverá voltar às suas origens.

Do auge à crise. O grupo cresceu e se diversificou, passando a erguer nos anos 1990 edifícios comerciais e shoppings, depois entrou em infraestrutura – foi dono do estaleiro Rio Grande (RS), vendido em 2010 para Engevix –, e tem um projeto portuário no Maranhão. Entrou em entretenimento: construiu o Allianz Parque, o estádio do Palmeiras, e o teatro Santander.

Entrevista com Walter Torre, da construtora W Torre, no Allianz Parque Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

PUBLICIDADE

A diversificação deu projeção à construtora, mas rendeu dores de cabeça. Abatido pela recessão, que o obrigou a se desfazer de ativos – como sua fatia no JK Iguatemi – e imóveis comerciais (vendidos ao BTG), o grupo ainda tem seu nome envolvido nas operações da Lava Jato e Greenfield.

Em julho, a construtora foi acusada de receber R$ 18 milhões para deixar a licitação para a construção do laboratório da Petrobrás, que teria ficado com a OAS. A WTorre nega irregularidades e diz que está à disposição para esclarecimentos.

Na Greenfield, que investiga fraudes nos fundos de pensão, Walter Torre foi convocado para depoimento coercitivo na Polícia Federal. O caso refere-se ao estaleiro Rio Grande. A empresa esclareceu, à época, que construiu o estaleiro em 2005 com recursos próprios, sem verba pública, e vendeu o negócio à Engevix. Depois disso, a Engevix se associou-se ao fundo de pensão da Caixa (Funcef). A investigação está em curso.

Nos últimos meses, a construtora começou a renegociar suas dívidas. Deu ativos como garantia, em torno de R$ 1 bilhão, para os bancos privados, como Bradesco e Itaú. Só com o Banco do Brasil, que financiou a construção do Allianz Parque, renegocia cerca de R$ 500 milhões. A receita do grupo com estádio vem da venda das cadeiras – 10 mil de um total de 43 mil –, aluguéis de camarotes, espaço para shows, eventos corporativos e alimentação, mas não é suficiente para cobrir os investimentos feitos, segundo fontes. Procurados, os bancos não comentam. Torre ainda tentou rever o contrato com o Palmeiras, mas perdeu a arbitragem, na disputa que ficou conhecida como a “briga das cadeiras”.

O grupo renegocia pagamentos em atraso com fornecedores e está demitindo. Em 2016, tinha 514 trabalhadores diretos e deverá enxugar mais. O faturamento encolheu. Em 2013, a receita da construtora, que responde por 60% a 70% do negócio, era de R$ 1,2 bilhão – caiu para R$ 818 milhões em 2014. O grupo não divulga os dados de 2015 e 2016, mas as vendas caíram mais, disse Torre. Com a Lava Jato, perdeu importantes contratos – um de R$ 300 milhões. Mas, segue otimista: “Tenho novos projetos pela frente.”

Publicidade