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4 em cada 10 fundos de ações renderam menos do que o Ibovespa em 2017

Diante desse resultado, analistas aconselham investidores a negociar a redução das taxas de administração

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:

Em busca de maiores retornos do que na renda fixa, arrefecida com a queda dos juros, muitos brasileiros viram nos fundos de ações uma oportunidade para colocar o pé na renda variável e entrar indiretamente na Bolsa, que em outubro encostou nos 77 mil pontos e aguçou o apetite por risco. No entanto, este ano, apenas 58% dos fundos de ações renderam acima do Ibovespa – principal índice de ações do mercado brasileiro.

Levantamento feito pelo Estado com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) analisou o desempenho de 1,2 mil fundos de ações de janeiro até setembro deste ano – último dado disponível. A pesquisa excluiu fundos que investem no exterior, fundos fechados, fundos mútuos de privatização (FMP-FGTS) e fundos que investem em apenas uma empresa. 

De janeiro a setembro, mais de 40% dos fundos de ações renderam menos que o Ibovespa Foto: Estadão

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Entre os fundos que se propõem a replicar índices (ações indexado), apenas 38% conseguiram bater o Ibovespa – que avançou 23,36% nos primeiros nove meses do ano. Já entre os que pretendem superar o índice (ativos), 60% foram bem-sucedidos. Entre os que buscam ações que paguem mais dividendos, 44% tiveram valorização acima do índice.

Fundos de ações são indicados para quem deseja investir em empresas, mas não tem disponibilidade ou experiência para estudar o mercado e pesquisar quais são as mais promissoras em determinado prazo e cenário. Esses produtos têm pelo menos 67% da carteira investida em ações e funcionam como um condomínio, no qual os investidores compram cotas. Além disso, os fundos são mais acessíveis – já que, para pulverizar o risco e montar uma carteira de ações diversificada, o investidor teria de desembolsar um valor muito mais elevado.

Na contrapartida, a instituição financeira geralmente cobra uma taxa de administração. No levantamento, elas variaram de 0% a 7,5% ao ano. Há ainda fundos que cobram a chamada taxa de performance – taxa adicional quando a rentabilidade ultrapassa determinado patamar.

Segundo especialistas, é comum que as carteiras que se balizam por uma referência rendam menos que o índice em si, por causa dos custos para montá-las e da taxa de administração. Além disso, o mercado de renda variável visa mais o longo prazo – o que permite, a depender da estratégia do gestor, que haja disparidades no curto prazo. 

“Muitos gestores se posicionaram muito fortemente em ativos que poderiam se beneficiar do andamento das reformas e da retomada econômica, como Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás. Aí veio a delação da JBS, as denúncias contra Temer e o impasse da reforma da Previdência – o que causou muito mais volatilidade”, explica Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos. “Alguns gestores viram oportunidade na queda de ações específicas – por isso, no curto prazo, alguns não tiveram um bom desempenho.” 

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Taxas. Outro fator responsável pelo desempenho tímido de alguns fundos é a taxa de administração, que corrói a rentabilidade. “Na prática, se um fundo tem taxa de administração de 3% ao ano, já começa negativo, devendo 3% para pelo menos empatar com o Ibovespa”, explica Giácomo Diniz, especialista em renda variável. “Depende do perfil e desempenho de cada fundo, mas eu não trabalharia com uma taxa acima de 1% ao ano.”

Por isso, observa Diniz, é essencial avaliar o histórico do fundo. “Sabemos que rentabilidade passada não é rentabilidade futura, mas o intuito é medir a consistência do gestor. É bom olhar pelo menos os últimos 36 meses.”

Informações como a taxa de administração podem ser encontradas na lâmina – documento disponível no ambiente de negociação das corretoras e também no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “É preciso examinar a lâmina do fundo para olhar as suas características: taxa de administração, mandato, se visa ao curto ou ao longo prazo e, principalmente, o objetivo: replicar ou superar o Ibovespa, se tem gestão ativa ou passiva”, explica Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos.

Com base nessas informações, observam os especialistas, é possível identificar o perfil do fundo – que tem de casar com o perfil do investidor. Entre os fundos que investem em small caps, por exemplo – empresas de menor porte –, 94% renderam acima do Ibovespa de janeiro a setembro. Tratam-se, porém, de ativos muito mais voláteis, por terem maior risco. 

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ETFs. Outra opção para quem quer acompanhar o comportamento de um índice são os chamados ETFs (Exchange Traded Funds). Com um custo médio de 0,5% sobre o valor aplicado, eles são fundos cuja carteira tem o número de ações equivalente ao peso de cada papel em determinado índice. O Bova11, por exemplo, tem as mesmas ações que compõem o Ibovespa. 

Para Indech, quem busca o retorno da Bolsa deve optar por um ETF em vez de um fundo de ações. “Sai mais barato para o investidor”, afirma. Já quem busca retornos maiores deve optar por um fundo de gestão ativa, no qual o gestor adotará estratégias para superar o índice. 

Mono ação.  Há uma categoria de fundos de ações que investem em apenas uma empresa – os chamados “mono ação”. O que surpreende é que alguns deles cobram taxas de administração de até 4% ao ano – consideradas altas.

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 Os fundos Santander FC Vale Plus Ações, Itaú Ações Vale Fundos de Investimento, Itaú Ações Unibanco FI, Safra Vale FIC Ações e Safra Petrobrás FIC Ações, por exemplo, cobram 3% ao ano. Safra Petrobrás 2 FIC Ações cobra 3,5%. Já Santander FI Vale 2 Ações e Santander FIC FI Petrobrás 2 têm taxa de 4%.

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 Segundo analistas, comprar essas ações diretamente na Bolsa teria custo muito menor – em média, de 0,5%. “Hoje, muitas corretoras já não cobram taxa de custódia para operar Bolsa – apenas um valor fixo na compra e na venda”, explica Indech. “Pagar tão caro para investir em apenas uma empresa mostra a falta de informação do investidor e que precisamos avançar em educação financeira.”

 Em nota, o Santander disse que os fundos citados não fazem parte da oferta atual da gestora – existem só para cotistas já existentes. “A Santander Asset Management acrescenta que oferece fundos que investem em ações de empresas com alto ganho de valorização no longo prazo.” Itaú e Safra não comentaram.

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