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Com menos euforia, Bolsa pode ter outro ano de alta, dizem analistas

Ações recuperaram preço e mercado está otimista com política de Temer, mas cenário externo é dúvida

Por Jéssica Alves
Atualização:
Desempenho da Bovespa surpreendeu os analistas Foto: Dario Oliveira|Estadão

O mercado de ações foi o investimento que mais brilhou em 2016. Quem olhar para trás vai lembrar que, no início do ano, o sinal era de que o conservadorismo iria prevalecer mais uma vez. Contudo, a saída de Dilma Rousseff da presidência da República e uma nova equipe econômica animaram os investidores. O índice Ibovespa disparou e muitos acreditavam que ele se manteria ao redor de 65 mil pontos. No fechamento do ano, contudo, a Bolsa encerrou aos 60.227 pontos. Ainda assim, foi uma valorização de 38,94%.

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Das ações listadas ou não no Ibovespa, somente 30 não superaram o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), balizador da rentabilidade da renda fixa, segundo um levantamento da provedora de informações financeiras Economática. Em 2015, o desempenho tinha sido inverso: só 26 ações tinham batido a renda fixa.

Mas Leandro Martins, da corretora Rico, vê o início de 2017 tão incerto quanto 2016 e o motivo tem nome e sobrenome: Donald Trump. O analista ressalta que o mercado pode ficar contaminado pelo sentimento de aversão ao risco, que atingiu principalmente os países emergentes diante da política expansionista pregada por Trump.

“O mercado acredita que a nova administração do republicano, de forte política de estímulo, vai fortalecer a economia americana”, explica Alexandre Silverio, da AZ Quest. Por outro lado, as barreiras que Trump deve impor podem favorecer o mercado de commodities, por exemplo, já que os obstáculos americanos devem fazer os países olharem mais para os produtos brasileiros, como é o caso da China, principal alvo das commodities nacionais.

As commodities de modo geral são apostas dos analistas para 2017. Além do fator Trump, a redução na produção de petróleo também fez o preço das ações da Petrobrás subirem.

Mesmo com Trump, Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, é otimista. “Tem muitos riscos? Sim. A Lava Jato, por exemplo. Mas um fator que mantém uma perspectiva positiva é a queda da taxa de juros.” Com o ciclo de queda da Selic, o retorno na renda fixa começa a cair, o que pode ser o começo de uma mudança na carteira. Ao mesmo tempo, esse movimento favorece companhias do setor elétrico, diz Pereira, que também recomenda os papéis das estatais.

“2017 seria uma consolidação do que aconteceu em 2016”, define Lenon Borges, da Ativa. Para ele, o mercado de ações deve ter uma alta mais leve, entre 10% e 20%, já que os fatores que impulsionaram o mercado este ano não devem se repetir.

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Fábio Astrauskas, CEO da Siegen e especialista em empresas em crise, explica que houve uma recomposição do preço em 2016 porque 2015 foi um ano muito ruim. “A Petrobrás mais do que dobrou de valor e outras ações, como Vale, tiveram uma equalização da expectativa.”

Entre as empresas com fraco desempenho em 2016, a queda maior é da Embraer, que esteve envolvida em irregularidades na venda de aeronaves e descumprimento das leis anticorrupção. A empresa também pode ser prejudicada por Trump, que pode impor barreiras à fabricante nacional.

Os setores de papel e celulose também tiveram perdas por estarem muito sensíveis ao câmbio. Outros segmentos que não foram favorecidos este ano foram os de construção e varejo, mais dependentes do consumidor e afetados pela crise. Por isso, esses segmentos continuam pouco recomendados.

Roberto Indech, da Rico, acredita que o câmbio ainda terá muitas oscilações, prevalecendo o enfraquecimento do real em relação ao dólar.

“Esse ano ainda teremos um ano turbulento por conta da Lava Jato e surpresas no exterior, lembrando que há tempos não havia um movimento tão forte na Europa.” Em 2017, a França e a Holanda terão eleições, o que pode reforçar o nacionalismo e mexer com os mercados.

Ainda há um risco de os investidores migrarem suas aplicações do Brasil para os Estados Unidos diante da alta de juros pelo Fed (o Banco Central americano). Isso poderia fortalecer mais o dólar. Tarcísio Rodrigues, do Banco Paulista, contudo, acredita que esse movimento não deve ser drástico.