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Conservadorismo deve dominar cenário do País em 2016

Com inflação em alta e expectativa de aumento da taxa de juros, aplicações tradicionais vão prevalecer no portfólio dos brasileiros

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

SÃO PAULO - Os investimentos conservadores devem dominar o portfólio dos brasileiros no ano que vem. A combinação perversa entre as incertezas nas áreas econômica e política mostra que 2016 será um ano para correr pouco risco.

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Por ora, as previsões para a economia do Brasil indicam que o ano que vem pode ser tão difícil como o atual. 

O País deve continuar o seu turbulento processo de ajuste fiscal num cenário de forte recessão, inflação elevada e aumento da taxa básica de juros. 

A inflação provavelmente vai descer do patamar de dois dígitos, mas tende a seguir insistentemente acima do teto da meta estipulado pelo governo (6,5%), o que vai dificultar o ganho real do investidor. Como consequência, o Banco Central já sinalizou que deverá promover novos aumentos da Selic com o objetivo de conter a alta dos preços.

A dificuldade na área econômica ainda vai se somar a um quadro turbulento político de difícil previsão. “Em 2016, nós estamos muito impactados pelo tamanho do ajuste fiscal que o governo de fato vai conseguir entregar”, afirma Luciane Ribeiro, diretora do Santander Asset Management. 

Na lista de investimentos que trazem ganho garantido em períodos de subida de juros aparecem os tradicionais fundos de renda de fixa e DI.

“Esses produtos, na sua maioria, têm liquidez e a garantia de que estão tendo um retorno um pouco acima da inflação”, diz Marcos Daré, diretor de investimentos do Bradesco.

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A composição de um portfólio mais conservador também pode englobar papéis do Tesouro Direto. Um título indexado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chega a pagar juros reais de 7,5% ao ano.

“Ou seja, o investidor aplica num produto de baixo risco que paga, além da inflação, mais 7,5% de juros”, destaca Liao Yu Chieh, professor do Insper. “Para o investidor com um prazo mais amplo, é uma boa recomendação.” 

Diversificação. Mas a aposta em investimentos conservadores não significa que o brasileiro tenha de fugir de aplicações de maior risco e evitar a diversificação da carteira.

“Num período de incertezas, se o investidor tem tolerância a risco, ele pode ter um crescimento financeiro bastante grande”, afirma Daré.

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Para definir uma estratégia, é preciso ter em mente qual é o prazo desejado e o tamanho do risco que se pretende correr. “A diversificação é sempre saudável. Muitas vezes, ficar conservador é tomar risco, porque no médio e longo prazos o investidor pode perder oportunidades”, afirma Luiz Sorge, presidente da BNP Paribas Asset Management. 

A importância da diversificação, diz Sorge, está na possibilidade de aproveitar a recuperação do mercado assim que ela ocorre. Isso porque, normalmente, as mudanças que podem trazer algum tipo de ganho são percebidas primeiro pelos investidores institucionais, e não pelas pessoas físicas.

Exterior. Com essa ideia de pulverizar as aplicações, uma das apostas está em ações de bolsas dos Estados Unidos e da Europa. O investidor consegue ter acesso a esse tipo de produto por meio de fundos locais que investem uma parcela do patrimônio fora do País.

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“Temos buscado diversificar mais fora do Brasil, dado o atual cenário interno recessivo, que deve ter um impacto no resultado das empresas. Acho bastante positivo aplicar em bolsas internacionais”, destaca Luciane, do Santander.

Leia abaixo as entrevistas com os especialistas

Luciane Ribeiro, diretora executiva do Santander Asset Management Foto: Robson Fernandjes/Estadão

‘Com o nível atual de retorno, ninguém precisa buscar riscos’

A diretora executiva do Santander Asset Management, Luciane Ribeiro, acredita que o investidor não precisa correr risco para ter retorno nas aplicações financeiras em 2016.

Qual é avaliação do cenário de investimento para 2016?

O Brasil continua tendo a taxa de juros mais alta do mundo, portanto o investidor tem de ser conservador. O mercado está prevendo um aumento dos juros para 2016. Então, na minha avaliação, com esse nível de retorno, ninguém precisa buscar riscos.

Nesse cardápio de ativos, quais seriam as opções?

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Os fundos DI e de renda fixa, de uma forma geral.

E a renda variável?

Temos buscado diversificar mais fora do Brasil, dado o cenário atual interno recessivo, que deve ter um impacto no resultado das empresas. Acho positivo fazer uma diversificação com as bolsas internacionais. Pode ser bolsa americana ou mesmo europeia, por exemplo.

Qual deve ser o impacto do ciclo de alta do juro americano?

É sempre ruim para as economias emergentes, porque é o fortalecimento do dólar vis-à-vis outras moedas. Mas, no Brasil, o impacto tende a ser um pouco menor, porque estamos caminhando para uma taxa de juros bastante elevada. Acho que a insegurança do lado político impacta muito mais o investidor de fora do País do que a própria elevação da taxa de juros americanos. Acredito que a taxa vai chegar a 1,25%, o que, comparado com o nosso juro real, é pouco relevante.

O cenário mais conservador para 2016 se estende para os próximos anos?

É difícil fazer qualquer tipo de projeção para 2017. Em 2016, nós estamos muito impactados pelo tamanho do ajuste fiscal que o governo de fato vai conseguir entregar. O ajuste não é tão simples e rápido. Vamos ter um processo de dois anos de recessão, de taxa de juros altas e desemprego crescendo. Só que esse cenário é mais agudo em 2016 e, se o resultado disso for mais rápido, ou seja, se o governo conseguir fazer o ajuste mais rapidamente, talvez 2017 seja um pouco melhor. 

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Marcos Daré, diretor de investimentos do Bradesco Foto: Daniel Teixeira/Estadão

‘É importante o investidor ter noção da tolerância ao risco’ 

Para o diretor de investimentos do Bradesco, Marcos Daré, o cenário de 2016 também deve favorecer opções mais conversadoras, mas é importante que o investidor conheça o horizonte de investimento e o seu apetite ao risco.

Como o sr. analisa os investimentos para 2016? 

O que a gente recomenda é que os clientes optem por produtos mais conservadores. Agora, antes de fazer a escolha, é importante ter uma noção do horizonte do investimento e da tolerância ao risco que o investidor quer correr. Num período de incertezas, se um investidor tem tolerância a risco, ele pode ter um crescimento financeiro bastante grande.

Então o sr. enxerga um cenário mais favorável para aplicações que sejam conservadoras?

Exceto o cliente que manifesta uma tendência explícita de correr risco, temos procurado focar em produtos conservadores. Esses produtos, na sua maioria, têm liquidez e a garantia de que estão tendo um retorno um pouco acima da inflação. E, se o cenário se estabilizar aqui ou lá fora, o recurso está na mão do investidor para ele fazer o que bem entender.

Qual investimento conservador o sr. recomenda?

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Pelo cenário que temos hoje, nós recomendamos os fundos referenciados DI. A outra sugestão são os produtos isentos (de Imposto de Renda), como LCI e LCA. 

E para os investidores com perfis de moderado a arrojado?

Para o perfil moderado, a carteira recomendada seria 70% em baixo risco, 20% em produtos de médio risco, como os fundos multimercados, e 10% em produtos de alto risco. Agora, para o investidor com um perfil dinâmico, a pizza seria dividida de outra forma: 55% em produtos de baixíssimo risco, 30% em produtos de médio risco, e 15% em opções de alto risco. Se a pessoa tem tolerância a risco, ela pode entrar em um fundo de ação ou um fundo atrelado a BDR (Brazilian Depositary Receipts), que investe em ações de empresas americanas.

Luiz Sorge, presidente da BNP Paribas Asset Management Foto: Divulgação

‘Movimento para a renda fixa tem de começar a ser revertido’

Na avaliação do presidente da BNP Paribas Asset Management, Luiz Sorge, embora o cenário favoreça produtos conversadores, é importante que o brasileiro diversifique e se prepare para a mudança do mercado.

Como o sr. avalia o cenário de investimento?

Acredito que a volatilidade seguirá e que ainda haverá uma poluição na leitura de mercado em relação aos aspectos não técnicos. Essa foi a grande dificuldade de 2014, por causa da eleição, e de 2015, devido ao cenário político ainda conturbado. 

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E o cenário para 2016?

A grande novidade é que estamos preparados e sabemos que será um ano difícil. Em termos de atividade econômica, continua sendo complicado. Em momentos como esse, aumenta por parte do investidor a aversão ao risco. Ele fica mais focado no curto prazo, com mais receio de tomar risco. Talvez seja um problema cultural nosso reagir aos movimentos de curto prazo, que são conjunturais

Então como o investidor deve se comportar? 

Cada pessoa tem de olhar deforma estruturada para os seus investimentos, pensar de maneira racional nos seus objetivos e mirar um prazo mais longo. Com relação a 2016, o aspecto de indefinição política e econômica deve perdurar, mas não será para sempre. O mercado financeiro antecipa o movimento da economia real.

O que ocorre nesse ponto de inflexão?

Provavelmente haverá mais fluxos externos e uma soltura dessas amarras do investidor local em relação ao risco. Só que isso ocorre de maneira rápida. É por esse motivo que a diversificação tem um papel importante. Diante disso, o movimento de migração para instrumentos de renda fixa tem de começar a ser revertido, para que haja a oportunidade de aproveitar (essa inflexão).

E qual é a recomendação para o investidor que busca um pouco mais de diversificação?

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Existem fundos que têm a sua carteira com uma composição atrativa para esse período de subida de mercados. O multimercado é sempre uma estratégia boa, porque ele se beneficia da arbitragem entre vários mercados e ativos. 

Os economistas ainda estão traçando o cenário de 2016, por enquanto. Em 2017, se todos as medidas colocadas forem cumpridas, a conjuntura pode ser mais tranquila.

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