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Crédito estudantil privado ganha espaço, mas exige planejamento financeiro

Com a redução do Fies, faculdades e instituições financeiras criam programas próprios de parcelamento e setor vê oportunidade de crescimento

Por Natália Cacioli
Atualização:

SÃO PAULO - A redução do programa de financiamento estudantil do governo federal (Fies) abriu espaço para o crédito privado. Para encher as salas de aula, instituições financeiras e as próprias universidades ampliaram ou criaram programas de financiamento, que têm mostrado forte adesão desde o ano passado. Essa opção, no entanto, exige foco e planejamento financeiro desde cedo.

A gestora Ideal Invest, responsável pelo programa “PraValer”, notou um crescimento de 70% no vestibular de verão deste ano em relação a 2015. “O Fies foi muito importante para criar a cultura do financiamento estudantil no País, foi um impulso inicial”, diz Rafael Badini, diretor de marketing e vendas da Ideal Invest. Em meados de 2015, o governo federal aumentou os juros do Fies de 3,4% para 6,5% ao ano e reduziu o teto de renda familiar, entre outras medidas que dificultaram o acesso ao programa.

Isabela precisou contratar o financiamento privado para cursar a faculdade Foto: Hélvio Romero/Estadão

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Atualmente, há cerca de 300 instituições educacionais que oferecem o “PraValer” no País - acréscimo de 100 empresas desde 2014. Todas elas subsidiam - integral ou parcialmente - os juros do parcelamento para o aluno, enquanto que em 2014 apenas 25 universidades ofereciam o benefício. 

No “PraValer” com juros totalmente subsidiados, o aluno paga metade da mensalidade enquanto estuda e a outra parte depois de formado. Ou seja, se o curso tem quatro anos, o financiamento será pago em oito. O saldo devido é corrigido anualmente pela IPCA, índice de inflação que acumula alta de 8,74% nos últimos 12 meses.

Nos casos em que a faculdade paga apenas parte dos juros, o aluno arca com 1,35% ao mês, em média (17,5% ao ano), mais a correção pela inflação. O pagamento mensal pode chegar a 65% do valor da mensalidade. Em um curso de quatro anos, o aluno paga o financiamento em até 10 anos. Em ambos os casos, o aluno precisa de um fiador e a renda somada de ambos deve ser 2,5 vezes o valor da mensalidade.

A estudante Isabela Baena, de 20 anos, recorreu ao “PraValer” para cursar Marketing. Criada pelos avós, a família não tinha condições de bancar o curso, e o salário como recepcionista não era suficiente para arcar com o total da mensalidade, de R$ 1.025. “Era a opção que eu tinha para estudar”, diz. No segundo semestre do curso, Isabela já saiu da recepção para se dedicar às ações de marketing da empresa.

A Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) tem promovido encontros com representantes dos bancos para ampliar a oferta de crédito privado. O Santander, que já oferece uma linha de financiamento para pós-graduação com juros de 2,39% ao mês, estuda abrir uma linha de crédito para graduação. O Banco do Brasil afirmou apenas que “monitora o mercado, buscando oportunidades”.

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Universidades. A Kroton, maior grupo educacional do País, criou uma linha de crédito própria no ano passado, e a resposta veio rápida: no vestibular deste ano, 25% das matrículas aderiram ao programa, enquanto o Fies teve captação de 10% a 15% --no auge, chegou a 50%.

As regras são similares às do “PraValer” e não há cobrança de juros atualmente. Segundo Guilherme Franco, vice-presidente de Marketing e Vendas da Kroton, a empresa quer aumentar as possibilidades do financiamento privado e há conversas em andamento com instituições financeiras para futuras parcerias. “Nós acreditamos fortemente que o financiamento estudantil é uma das principais alavancas para o crescimento da formação superior no País”, diz.

A Unip também criou uma linha própria de parcelamento e fez parceria com uma instituição financeira em 2015, mas o vice-reitor de Planejamento, Administração e Finanças, Dr. Fábio Romeu de Carvalho, nota um receio dos alunos. “Ainda há um temor de nossos estudantes em relação a assumir dívidas futuras, embora em outros países isso já seja cultural. Entretanto, nossos alunos estão, gradualmente, adquirindo essa cultura”, afirma.

Planejamento. Se comprometer com uma dívida de longo prazo no início da vida adulta, porém, exige cuidado. Na faixa etária de 18 a 24 anos, o endividamento atinge 21% da população do País; de 25 a 29 anos, quase 50%. Segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2014, 50% dos beneficiários do Fies estavam inadimplentes.

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Nos Estados Unidos, onde 70% dos estudantes recorrem ao financiamento privado para cursar uma faculdade, o modelo de crédito estudantil é criticado por vários especialistas. Dívidas educacionais milionárias chegam a se prolongar até os 50 anos, inviabilizando o crescimento profissional e pessoal de muitas pessoas.

Para evitar a repetição desse cenário no Brasil, o mais importante é investir em educação financeira. “Falta no jovem de hoje um pouco do planejamento, de visão de longo prazo, de deixar de lado as questões imediatistas”, diz a Claudia Forte, superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF). “Antes de escolher uma universidade, é preciso desenhar um planejamento financeiro e discuti-lo com os familiares, atrelando o sonho ao que é possível executar”, orienta.

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