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ESG faz sustentabilidade, futuro, diversidade e propósito chegarem ao C-level

Diretoria de Futuro da ArcelorMittal e vice-presidência de Sustentabilidade da Natura são exemplos; pesquisa aponta que 30% de 1.640 companhias globais têm chefia para sustentabilidade

Por Marina Dayrell
Atualização:

O mundo do alto escalão ganhou novos cargos para fazer companhia aos já conhecidos “C” do C-level: CEO (chief executive officer, ou diretor executivo), CFO (diretor financeiro) e outras variações em inglês. Com o impulso do ESG, temas como sustentabilidade, felicidade, propósito e até futuro se tornaram estratégicos para as companhias e, com isso, garantiram uma cadeira no topo das organizações. 

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Dentro do ESG (princípios ambientais, sociais e de governança), há um leque de responsabilidades em cada uma das letras. Na parte ambiental, por exemplo, as preocupações giram em torno do impacto da companhia no ambiente, como a emissão de gases, pegadas de carbono e o descarte de resíduos. Já no pilar social, entra desde o relacionamento com os colaboradores até políticas de diversidade e inclusão. Por último, na governança, são temas comuns práticas anticorrupção, ética e compliance.

São essas, e muitas outras preocupações, que guiam a criação de novos cargos, não só em posições gerenciais e de especialistas como também na presença no alto escalão. A busca por esses profissionais têm ocorrido, neste primeiro momento, dentro das empresas, segundo a Page Executive, empresa de recrutamento C-level.

A economista e advogada de formação Tarcila Ursini passou a ocupar o até então inédito cargo de Chief Purpose Partner na eB Capital, há um ano. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

“Nós começamos a ver o início de um movimento interno nas empresas, em que elas alçam alguém para cargos C-level de sustentabilidade, diversidade, propósito e felicidade. Mesmo que essa pessoa não tenha uma bagagem de um C-level comum, alguém que está em um nível gerencial da empresa, mas dá a responsabilidade adequada para que ela trate o assunto de acordo com a dor daquele momento”, explica Paulo Dias, sócio da Page Executive.

Segundo Dias, geralmente são alçadas a esses cargos pessoas com experiência nas áreas de recursos humanos e desenvolvimento de pessoas. Com a movimentação interna, as empresas vão ao mercado buscar substitutos para o antigo cargo desse profissional. Além desse movimento, a consultoria percebeu também um maior recrutamento de executivos do alto escalão que tenham interlocução com o tema ESG, ainda que a função não seja exclusivamente nessa área.

“Ainda não é algo que vamos ver em todas as empresas, de todos os tamanhos e setores. É um movimento que tem acontecido principalmente em empresas de capital aberto porque elas têm responsabilidade com os acionistas e de certa forma elas enxergam valor nisso, há um interesse financeiro por trás”, explica Paulo. 

O próprio ineditismo de altos cargos ligados ao ESG faz com que o tema ainda esteja amadurecendo no mercado e os principais resultados são esperados a médio e longo prazos, dizem especialistas. As expectativas miram 2030, ano em que vencem os prazos das metas de sustentabilidade e diversidade e inclusão de grande parte das empresas e também dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

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“Constituir uma área ESG faz diferença no ambiente corporativo porque cada área, como o jurídico e o financeiro, tem um diretor ou vice-presidente responsável. São áreas grandes, estratégicas, com metas de curto, médio e longo prazos, orçamentos e pessoas. Quando esses temas estão diluídos em outras áreas, sem liderança responsável, esses processos andam mais lentamente. Isso a gente vê nos dados de subrepresentatividade de mulheres, negros, pessoas com deficiência e LGBTI+”, explica Liliane Rocha, CEO da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade. 

Ela explica que empresas que passaram nos últimos anos a investir nessas áreas começaram a colher alguns resultados, como o aumento do número de funcionários negros e mulheres, mas que grande parte do cumprimento dessas metas vem a longo prazo.

Acompanhando a tendência, a ArcelorMittal criou, em 2021, um novo cargo no mercado, o de Diretora de Futuro, ocupada por Paula Harraca, que tem mais de 20 anos de empresa. Essa é a forma abreviada pela qual a posição é conhecida, mas o nome completo é Diretora de Estratégia, ESG, Inovação e Transformação do Negócio.

O dia a dia de Paula, que é graduada em Administração de Empresas e construiu a carreira na área de recursos humanos, é orquestrar seis áreas: a estratégia ESG, a inovação, a gestão de projetos, a cultura organizacional, a comunicação e o branding, além do investimento social.

Desde o ano passado,Paula Harraca ocupa a nova Diretoria de Futuro na ArcelorMittal, área responsável por estratégia, ESG, inovação e transformação do negócio. Foto: Leo Drumond/Nitro

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Segundo Paula, a maior parte das funções que ela desempenha já existiam na organização antes da criação do cargo, com exceção das práticas de ESG e de Inovação, mas a estratégia foi reunir todas sob uma só liderança para que elas sejam interdependentes. “Em um momento de reflexão estratégica, quando o CEO começou a olhar para o futuro da organização, ele entendeu que era importante criar uma diretoria que olhasse para isso. O desafio foi trazer as pautas que se tornam cada vez mais relevantes para a sociedade e para o mercado e colocá-las juntas para extrair delas um potencial maior”, explica Paula. 

Chefe de Sustentabilidade

Entre as novas posições criadas nos últimos anos ao redor do ESG, a do chefe de sustentabilidade tem sido a mais famosa. No mercado, ela ganha vários nomes, como Chief Sustainability Officer (CSO), presidente ou vice-presidente de Sustentabilidade e Sustainable Growth Officer (chefe de crescimento sustentável, em inglês).

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“Começamos a sentir essa demanda há três anos. A gente já via o tema da sustentabilidade antes, mas a sigla ESG conseguiu reunir dores que já existiam e que as empresas já discutiam de uma certa maneira. Já havia posições de gerência, mas começou a se elevar os cargos para facilitar a discussão”, explica Paulo Dias.

De acordo com um estudo da consultoria Strategy&, esses cargos têm crescido rapidamente ao redor do mundo, mas a maioria das empresas ainda não têm uma posição formal de CSO. O comum, no mercado, tem sido adicionar as funções de sustentabilidade a outro cargo C-level já existente, muitas vezes o de Chief Financial Officer (CFO). Por isso, especialistas aconselham que profissionais de finanças tenham no currículo experiência com responsabilidade social, ambiental e de governança.

Entre as 1.640 companhias globais analisadas, 30% têm cargos formais de CSO. Na América do Sul, 30% das empresas têm um CSO formal, 52% têm a figura do ‘light CSO’, aquele que combina suas funções com outro papel dentro do C-level, e 19% delas não têm essa função. 

Na Natura & Co, grupo que reúne Natura, Avon, The Body Shop e Aesop, o cargo surgiu em 2020. Graduado em ciências sociais e direito, Marcelo Behar ocupa a cadeira de vice-presidente de Sustentabilidade da organização. 

Há nove anos na companhia, ele explica que a sua principal função é coordenar a atuação das quatro empresas com as expectativas da sociedade e, para isso, criar metas claras e palpáveis. Sua atuação passa pela parte ambiental (como o objetivo da descarbonização, por exemplo), pelo pilar social (com métricas de igualdade de gênero) e pela economia circular (em relação às embalagens dos produtos).

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“Para atuar nessa área, o profissional precisa ter o desejo de mudança, de fazer uma transição, a partir do negócio, levando em consideração a dimensão empresarial. Tem que navegar entre quatro dimensões: o conhecimento regulatório, a capacidade de dialogar com diferentes públicos, o mundo da engenharia (para lidar com processos e mudanças físicas) e uma certa curiosidade científica para guiar o processo de tomada de decisão.”

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Propósito e Diversidade

Outra ponta do ESG são os cargos que lidam diretamente com felicidade, propósito e diversidade e inclusão. Geralmente, os nomes aparecem em inglês, como em Chief Purpose Partner ou Chief Purpose Officer (para propósito), Chief Happiness Officer (para felicidade) e Chief Diversity and Equity Officer (para diversidade e inclusão).

“Felicidade, propósito e diversidade são demandas mais novas do que a sustentabilidade. Há 10 anos não falávamos tão fortemente como hoje. Muitas vezes, a área de recursos humanos já se preocupava com elas de alguma forma, mas quando os assuntos viraram pauta de conselhos surgiu a necessidade de ter um profissional mais elevado para discuti-los", explica Paulo Dias.

Do lado dos colaboradores, o propósito passou a atuar como um decisor importante na hora de escolher um novo cargo. Com isso, aliado ao lucro, as empresas precisaram também definir e deixar explícito os motivos pelos quais elas existem. Neste contexto, nasce o chefe de propósito.

Há um ano, Tarcila Ursini, economista e advogada de formação, passou a ocupar o até então inédito cargo de Chief Purpose Partner na eB Capital, gestora de investimentos. Segundo ela, o seu cargo reúne atividades que já existiam na companhia, mas que, ao serem reunidos em uma posição, ganharam mais robustez para ampliar processos, indicadores e compromissos.

Em março deste ano, a Docusign criou o cargo de Chief Diversity and Engagement Officer (CDEO, chefe de diversidade e engajamento, em português) ocupado por Iesha Berry. Foto: Arquivo Pessoal

“O chefe de propósito é algo muito novo. Em muitas empresas o próprio CEO é o líder de propósito da companhia, porque o propósito é muito mais amplo do que o olhar de ESG. Ele é para toda a empresa. A organização tem uma função social pelos serviços que vende e pelos produtos que produz e, para isso, ela precisa ganhar dinheiro. Então, é preciso conciliar lucro com propósito”, explica.

Para ocupar uma posição como essa, ela acredita que são necessários quatro pilares: pensamento sistêmico multinível, saber fazer a inclusão dos stakeholders, ter um olhar de inovação disruptiva (que considere criatividade e inovação) e visão de longo prazo. 

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No campo da diversidade, o tema vem ganhando mais destaque no mundo corporativo nos últimos anos. Uma pesquisa feita pelo LinkedIn, em 2021, apontou que   com organizações que tenham a diversidade como um pilar essencial. 

Para tornar o assunto um tema estratégico da liderança, a Docusign levou, em março deste ano, o tema para o alto escalão, com a criação do cargo de Chief Diversity and Engagement Officer (CDEO, chefe de diversidade e engajamento, em português). Iesha Berry, graduada em Psicologia e com experiência na área de recursos humanos, passou a ocupar a posição, cujas funções, segundo ela, já existiam na companhia antes e eram desempenhadas pelo setor de RH, mas que, com o cargo, o compromisso ganhou mais visibilidade e estratégia. 

“Eu gosto de encarar o meu cargo como aquele que foca em melhorar a experiência humana, tanto para colaboradores, quanto para clientes e sociedade. Nesses primeiros meses de função, eu tenho tentado entender a organização. Isso inclui conversar com os nossos executivos para entender as três prioridades do negócio para, então, entender o que elas significam em uma perspectiva de pessoas e cultura”, conta. 

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