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Um olhar brasileiro sobre os desafios de hoje no dia a dia Europa

Espanha em recessão perdoa ao rei por caçar elefantes na África enquanto crise no país se agravava

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Por karlamendes
Atualização:
 Foto: Estadão

Bastou o pedido de desculpas do rei Juan Carlos em um depoimento gravado para a TV espanhola. E os súditos espanhóis perdoaram sua majestade por estar caçando elefantes em Botsuana, na África, enquanto o país enfrentava a disparada da curva de risco do país devido à desconfiança dos investidores e o acirramento da crise diplomática com a Argentina, desencadeada pelo anúncio da expropriação da petroleira YPF Repsol exatamente no dia em que Juan Carlos foi manchete de todos os jornais da Espanha por seu afastamento "inoportuno".

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Como "nunca antes na história" da Espanha um rei havia se pronunciado sobre sua vida privada, muito menos para se desculpar, as manchetes seguintes ao pedido de desculpas exaltavam a "humildade" do rei, na última quinta-feira. Nesse mesmo dia, almocei com alguns colegas de trabalho aqui e tive uma verdadeira aula de monarquia, pois o centro da conversa não foi outro senão as desculpas do rei.

Naquela ocasião eu soube que, apesar de toda a repercussão negativa da viagem do rei sem aviso prévio enquanto o país desabava, a monarquia espanhola não estava ameaçada. Muito menos a autoridade do rei Juan Carlos, pelo qual muitos cidadãos daqui têm verdadeira devoção, taxados inclusive de "juan carlistas".

Chamou muito a minha atenção o comentário de um dos colegas, que disse: "nós, espanhóis, somos muito apaixonados. Bastou o pedido de desculpas histórico e o assunto foi encerrado". Na verdade, mais que um rei, Juan Carlos representa para a população daqui o símbolo vivo da democracia espanhola, que se instaurou depois de anos e anos de ditadura.

Ele tinha razão. No domingo, a manchete do El Mundo mostrava exatamente isso: 70% dos espanhóis perdoam o rei. Os dados foram encomendados ao instituto Sigma Dos pelo próprio jornal, que é de direita e apoia o governo. Entre os maiores de 65 anos, o índice de perdão foi ainda maior: 80,5%. Os jovens, contudo, têm uma visão mais crítica do episódio, mas ainda assim 57,9% concederam seu perdão ao monarca.

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Apesar disso, porém, o incidente deixou sequelas na imagem do rei. Na sondagem, 52,8% opinaram que o pedido de desculpas não reparavam o dano causado à imagem da Coroa Real pela viagem, que só se tornou pública porque o rei teve uma fratura no quadril depois de um tombo no hotel e teve que voltar às pressas para Madri.

Recessão

Um dia depois do perdão generalizado ao rei, a Espanha recebeu a notícia de que está em sua segunda recessão desde 2009. O Banco da Espanha anunciou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu 0,4% no primeiro trimestre de 2012 em comparação ao último trimestre de 2011, que já acumulava uma retração de 0,3% sobre o período anterior. Ou seja, dois trimestres seguidos de PIB negativo, o que oficializa que o país está tecnicamente em recessão.

Outros componentes que agravam a recessão espanhola é o índice de desemprego, que alcançou 24% (o mais alto da zona do euro), e a queda de 0,4% no consumo das famílias, que são os verdadeiros termômetros da economia de um país. Os investimentos em bens de capital, que mostram como está a indústria, também teve retração de 3,5%.

 

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