Brasil indica que vai ''esfriar'' a economia

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Por Redação
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Fernando Dantas - O Estado de S.Paulo
No terceiro dia do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o novo governo brasileiro passou uma mensagem de moderação do crescimento e das pressões de demanda.  O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, deixaram claro para investidores, empresários e banqueiros reunidos na pequena cidade alpina que o momento é de usar as políticas monetária e de crédito para esfriar a economia brasileira e controlar as pressões inflacionárias. Eles participaram de um debate sobre o Brasil ontem em Davos. Coutinho disse que o BNDES vai anunciar em breve um aumento da contrapartida nos financiamentos para prazos de até sete anos. As contrapartidas são os recursos que a empresa têm de obter fora do BNDES para complementar o valor total do financiamento do projeto. Hoje, elas variam entre 50% e 100% do valor total, com uma média de 70% a 75%. O presidente do BNDES acrescentou que o banco não vai aumentar sua carteira de empréstimos em 2011, e vai mantê-la aproximadamente igual a 2010, de R$ 144 bilhões (excluindo a capitalização da Petrobrás). Referindo-se à política monetária do BC, Coutinho comentou que a manutenção do nível da carteira de financiamento do BNDES "é uma contribuição, porque na margem nós não vamos expandir". Ele ressalvou, entretanto, que o controle da demanda não será feito à custa do investimento. Já Tombini afirmou que o Brasil está "com uma demanda excessiva". Apesar de considerar que não se trata de "um problema enorme", ele garantiu que o País vai usar as ferramentas existentes para combater a pressão inflacionária, que atribuiu parcialmente à alta das commodities. Tombini citou a elevação da Selic e o uso das chamadas medidas macroprudenciais - a elevação de compulsórios e de exigência de capital em empréstimos. "Estrelas". O Brasil, apesar da presença muito tímida este ano no fórum, é incluído com a China e a Índia no elenco das estrelas emergentes - expressão usada em Davos por Martin Sorrell, presidente da WPP, grupo britânico de publicidade e marketing. Porém, apesar do sucesso, economistas mostraram preocupação com o sobreaquecimento da economia brasileira. O discurso bem afinado de Tombini e Coutinho buscou tranquilizá-los. O presidente do BC lembrou que o arcabouço macroeconômico brasileiro tem sido bem-sucedido em manter a estabilidade da economia nos 10 a 12 anos desde que foi implementado. Tombini observou que o regime, que combina meta de inflação, política fiscal responsável e câmbio flutuante, mostrou-se adequado em diversos "ambientes desafiadores" desde a sua criação em 1999. Coutinho, na sua apresentação, disse que o País vai "moderar o consumo, moderar o crédito ao consumo, moderar as despesas correntes do governo, mas manter os investimentos". Ele previu que o investimento total na economia brasileira vai crescer entre 9,5% e 10% em 2011. O objetivo do governo, ele notou, é elevar o investimento nos próximos anos até o nível de 23% ou 24% do PIB (hoje está em 19%), e com a intenção de que esse movimento seja acompanhado pela poupança (que é um pouco menor que o investimento). Segundo o presidente do BNDES, "neste ano tudo vai crescer mais moderadamente, mas é importante que o investimento cresça mais do que o PIB (cujo aumento ele projeta em 5%)". Em relação ao BNDES, Coutinho explicou que o aumento das contrapartidas vai se limitar aos financiamentos de até sete anos. Nesse segmento de prazo mais curto, ele conta com o aumento do financiamento privado, estimulado pelo pacote de desoneração e de maior abertura ao capital estrangeiro nas emissões de debêntures e de outros instrumentos do mercado de capitais, lançado pelo governo recentemente. Coutinho defendeu a atuação do BNDES e de outros bancos públicos durante a crise econômica global. Ele disse que o aumento do crédito ao investimento pelo BNDES durante o período de reação à crise correspondeu a 2,5% do PIB. Em relação ao câmbio valorizado, Tombini, do BC, disse que "é uma situação temporária, reflexo do ambiente externo". Ele observou que, como no caso da demanda, há capital entrando no Brasil "em excesso", por causa das boas condições econômicas do País e das oportunidades de investimento. "É preciso lidar com a abundância", resumiu o presidente do BC. / COLABOROU DANIELA MILANESE

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