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Indústria mantém dependência do BNDES para investir em 2011

Para analistas, medidas de incentivo ao crédito privado de longo prazo terão efeito limitado na sobrecarga do banco

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Por Redação
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Alexandre Rodrigues / RIO - O Estado de S.Paulo

Apesar do papel mais forte nos grandes projetos de infraestrutura que o governo quer dar para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a instituição ainda será decisiva no suporte aos investimentos da indústria em 2011. Mesmo com os incentivos ao crédito privado de longo prazo, apontam analistas, o BNDES manterá o elevado patamar de liberações de 2010. A indústria ficou com quase metade do desembolso recorde de R$ 168,4 bilhões do BNDES no ano passado. Foram R$ 78,8 bilhões, 24% a mais do que em 2009. Uma nova operação especial de apoio à Petrobrás (R$ 24,7 bilhões aplicados na capitalização) destacou o setor de química e petroquímica nas contas do banco. O crédito para o segmento somou R$ 33,8 bilhões, alta de 32% em relação a 2009, quando o BNDES já havia emprestado outros R$ 25 bilhões para a estatal. As liberações para o transporte rodoviário tiveram alta de 90% em 2010, acumulando R$ 25,9 bilhões, com a escalada do crédito para ônibus e caminhões com os juros subsidiados do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), cuja carteira superou R$ 120 bilhões e financiou também bens de capital, exportação e inovação. A indústria de caminhões teve um dos seus melhores anos embalada pelo financiamento do BNDES para caminhoneiros autônomos e microempresas. O Procaminhoneiro cresceu 470% em relação a 2009, somando R$ 6,6 bilhões emprestados em 37,5 mil operações. O PSI termina em março, mas o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, negocia com o governo uma forma de manter incentivos. O banco também aguarda uma definição, que deve sair em fevereiro, sobre um novo reforço do Tesouro Nacional para a manutenção do atual patamar de desembolsos. O PSI dobrou os desembolsos das linhas do BNDES para a aquisição de máquinas e equipamentos, ampliando a capacidade da indústria. O programa está por trás da alta de alimentos e bebidas (53%) e têxtil e vestuário (232%) no desempenho do banco. A demanda de setores voltados para o mercado interno fez o crédito para as áreas de agropecuária e de comércio e serviços crescer ainda mais do que a indústria: 56% e 48%, respectivamente. "Esse crédito viabiliza um aumento de oferta que só será sentido a médio e longo prazo, mas que é a melhor política de combate à inflação. Por isso, o governo deve continuar incentivando o investimento para alcançar o crescimento sustentado", diz Fernando Sarti, do Instituto de Economia da Unicamp. Para o economista Antonio Carlos de Lacerda, da PUC-SP, o BNDES começará a se voltar para a infraestrutura e a retomar o foco em desenvolvimento regional, inovação, meio ambiente e pequenas empresas, mas o setor industrial ainda dependerá muito do banco em 2011. "O investimento na economia cresceu nos três primeiros trimestres de 2010 a taxas superiores a 20%, à frente do consumo. O crescimento do BNDES reflete esse desempenho positivo. Começam a surgir outras fontes de longo prazo, mas o BNDES ainda será importante", avalia Lacerda, para quem o crescimento do financiamento estatal não preocupa. O BNDES concentra mais de 70% do crédito de longo prazo no País. "O BNDES é mais solução do que problema." Para Lacerda, a alta de juros iniciada pelo Banco Central para combater a inflação aumenta a atratividade dos títulos de curto prazo, adiando ainda mais os efeitos do pacote lançado em dezembro para estimular o crédito privado no longo prazo, especialmente no mercado de capitais. Já para Armando Castelar, coordenador da área de economia aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), há espaço para que alternativas, como emissões de títulos privados, saiam do papel, reduzindo a demanda de crédito sobre o BNDES. "É algo para ser gradual, mas que pode crescer ao longo do ano. A queda dos juros é importante mas não é imprescindível. Muitas empresas já estão fazendo emissões de debêntures e o próprio BNDES está ajudando a movimentar esse mercado", observa o economista, ressaltando o impacto fiscal provocado pela manutenção do crescimento do crédito do BNDES a reboque do Tesouro Nacional. "Os incentivos ao crédito privado são sinais fortes de que o próprio governo quer alternativas ao BNDES para elevar o investimento", observa.

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