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Crônicas, seguros e um pouco de tudo

Opinião|Velhos problemas sem solução

Os fenômenos climáticos estão se tornando mais danosos e mais frequentes. Os governos não têm qualquer interesse em estudar soluções. Não há muito o que as seguradoras pudessem fazer neste cenário...

Atualização:

Não acredito que o Governo do Rio de Janeiro pudesse fazer qualquer coisa para evitar os estragos causados pela chuva torrencial que despencou em cima do estado já em abril.

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Tradicionalmente, as chuvas de verão acabam em março, mas este ano a natureza decidiu nos surpreender com a prorrogação do tempo de jogo e, por volta do dia 8 de abril, mandou uma série de tempestades, que se abateram principalmente sobre São Paulo e Rio de Janeiro.

Não fosse a violência da tempestade fluminense, São Paulo teria ocupado as matérias dos jornais, em função do tempo em que choveu na cidade e dos estragos causados pela chuva.

Mas o Rio de Janeiro decidiu abocanhar toda a fama e as chuvas, que desceram os morros, se espalharam pela cidade e atingiram inclusive cidades próximas, se encarregaram de dar a eles o grosso do espaço nas mídias.

Apesar da diferença de intensidade, os eventos fluminense e paulista são essencialmente semelhantes, inclusive tendo a mesma origem e acontecendo concomitantemente.

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O que variou foi a força e a intensidade com que as águas caíram. Choveu muito mais no Rio de Janeiro do que em São Paulo e isso fez toda a diferença, para sorte dos paulistanos e falta de sorte dos cariocas.

Falta de sorte que vai além do azar e passa pela ocupação indiscriminada de áreas de risco com forte potencial de perdas no caso de chuvas como as que caíram sobre o Rio de Janeiro.

A verdade é que, desde o final do século 19, os morros cariocas vêm sendo ocupados pelas pessoas menos favorecidas, que não têm onde morar, nem recursos para se instalarem em outras regiões.

Hoje, não fosse a ocupação dos morros pelas comunidades, várias dessas áreas teriam valor de mercado entre os metros quadrados mais caros do país. Como não tem mais muito jeito de reverter o quadro, pelo menos no futuro próximo, não é de se esperar qualquer mudança na situação.

Em comum São Paulo e Rio de Janeiro têm a falta de empenho dos respectivos governos. Nenhuma das prefeituras e nenhum dos estados tem mostrado comprometimento com a segurança da população instalada nas áreas de risco. No máximo, quando acontece uma chuva mais forte, prometem mundos e fundos, que não entregarão, e que todos sabem que não serão entregues.

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Além disso, em nome da demagogia política, ao longo dos anos, foram instalados equipamentos como água e luz em regiões onde deveria ser terminantemente proibida a construção de um único imóvel. O resultado é que em certas áreas moram milhares de pessoas que, diante das forças naturais, têm como prerrogativa ficarem com medo e rezarem para não acontecer nada mais sério.

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Várias dessas áreas não são passíveis de serem seguradas. Quer dizer, mesmo que houvesse seguro e demanda para este tipo de proteção, dependendo do local, as seguradoras não aceitariam fazer os seguros porque os riscos são muito altos e praticamente certos.

O problema é que, nas áreas onde seria possível fazer seguros, moram pessoas que não têm condições econômicas de comprar uma apólice. A renda média nacional, na casa de dois mil reais por mês, impede que essas pessoas, ainda que o desejassem, comprassem seguros para se proteger de eventos como as tempestades que acabaram de cair.

Como mudar isso? A resposta é complexa e de qualquer forma lenta. Não há como mexer na realidade atual e, o que é pior, os governos não estão interessados em estudar ou apresentar soluções factíveis para o problema.

São as velhas mazelas nacionais entrando em cena, só que agora com outra violência. Os fenômenos climáticos estão mudando de patamar e se tornando muito mais danosos e frequentes.

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Como não há a menor indicação de que o problema seja passageiro, nos próximos anos as cidades brasileiras serão cada vez mais castigadas por tempestades mais fortes, que causarão mais danos.

O duro é que, neste cenário, há muito pouco que as seguradoras possam fazer.

 

Opinião por Antonio
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