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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Reforço para os bancos

Os chefes de Estado da União Europeia, reunidos nesta quarta-feira em Bruxelas, avançaram em decisões que procuram injetar anticorpos no bloco do euro para limitar o contágio e a propagação da crise. Se tiveram ou não sucesso é o que se verá nas próximas semanas.

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Atualização:

A Grécia foi considerada caso perdido. Ninguém falou assim, mas, uma vez admitido o calote de 50% a 60% da dívida que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, impuseram aos bancos credores, pressupõe-se que não há solução pelos outros caminhos antes tentados.

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O problema é que nem com esse megacorte a dívida parece sustentável. A Grécia ficará agora anos e anos afastada dos mercados de crédito e terá de sustentar as despesas do setor público somente com o que vier a ser arrecadado. E numa conjuntura de perda de receita, uma vez que a retomada do crescimento não acontecerá tão cedo.

A hemorragia dos bancos subsequente ao enorme calote terá de ser contida por meio da recapitalização e do reforço das provisões. Não ficou claro de onde virão recursos para blindar os bancos, porque o objetivo é empurrá-los a se abastecerem, primeiramente, nos mercados. Enquanto não completarem esse processo que tem prazo para terminar (julho de 2012), não poderão pagar nem dividendos nem bônus por desempenho a seus diretores.

Também não foi explicado por que o volume de dinheiro necessário para essa recapitalização foi reduzido à metade, dos 200 bilhões de euros anteriormente calculados pelo Fundo Monetário Internacional. Talvez se espere que um significativo número de instituições financeiras se desfaça de boa parte dos seus ativos, para não dependerem tanto da captação e dos aportes de fontes oficiais.

De todo modo, ficou definido que os bancos terão um nível de capitalização correspondente a 9% dos seus ativos, ponderados pelo risco. E essa ponderação pelo risco leva a crer que os títulos de dívida da área do euro serão classificados pelo seu valor de mercado. Ou seja, com reconhecimento oficial, acabou o tempo em que todos os títulos de dívida soberana do bloco devessem ser considerados tão bons quanto os da Alemanha.

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Fica para ser avaliado até que ponto o corte da dívida grega não encorajará outras reestruturações e, antes disso, se não servirá de precedente para novos endividamentos em escala em outros países.

Assim, um dos focos da reunião do encontro desta quarta foi matar ainda no ovo a crise sistêmica dos bancos. Agora resta saber de onde sairá o capital que não conseguirem levantar nos mercados pela venda de ações novas.

No mais, as enormes pressões políticas sobre o governo da Itália para que apresse suas reformas sugerem que, ao menos informalmente, acaba de ser admitido certo grau de ingerência nos assuntos internos dos países de governança mais fraca. Esse pode ser o embrião de uma unidade fiscal.

A cúpula dos 27 chefes de Estado da União Europeia terminou no início da noite desta quarta-feira. A ela se seguiu o encontro dos 17 da área do euro. O principal assunto da pauta é a forma de aumentar o poder de fogo (alavancagem) do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), criado para dar cobertura a crises de liquidez e, provavelmente, também para socorrer instituições financeiras em perigo.

CONFIRA

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Acima da previsão. Os diretores do Banco Central bem que se esforçam para ver sinais de moderação nas estatísticas. No entanto, o avanço do crédito está muito longe de se conter entre 15% e 16%, como anunciaram no início do ano. Em 12 meses terminados em setembro, o crédito na economia cresceu 19,6%. No início de 2011, seu estoque no sistema bancário correspondia a 46,4% do PIB. Ao final de setembro, subiu para 48,4% do PIB. Ou seja, continua contribuindo excessivamente para aumentar a demanda e não vem ajudando a controlar a inflação.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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