Pode também ser evocada agora, depois do relativo sucesso do leilão do Campo de Libra, em meio a vociferações de grupos aferrados a pontos de vista antigos e sem sentido.
O principal avanço é o de que, apesar das vacilações, um governo que se intitula de esquerda afinal começa a aderir ao que até anteontem considerava o pior da sua relação com o setor privado, tão pior considerava que chamava de privataria.
Ainda é uma adesão envergonhada e constrangida, porque em nenhum momento nem a presidente Dilma nem os principais figurões do governo se atrevem a reconhecer que esse é o caminho da privatização sadia. Ao contrário, para efeito externo avisam que concessões de serviços públicos e entrega de exploração de petróleo a empresas privadas estrangeiras podem até ter alguma semelhança com os processos de privatização colocados em prática pelos neoliberais, mas não têm nada a ver com essas coisas horríveis, porque, argumentam, como a presidente Dilma argumentou, só agora o Estado e a sociedade são os grandes beneficiários.
Embora tenha enfrentado com competência disseminadas escaramuças jurídicas e manifestações de rua contrárias à licitação de Libra, falta sinceridade no governo Dilma. Não reconhece que o Tesouro está no bagaço e que, se é para dotar a economia de uma rede moderna de infraestrutura e de serviços públicos, é preciso convocar para isso o setor privado. Bem verdade, o setor privado não é Santa Casa de Misericórdia, que se dedica a benemerências. O setor privado só entra na parada se tiver retorno satisfatório. Mas, afinal, o que é mais republicano: remunerar adequadamente o setor privado que investe, da emprego e opera serviços públicos; ou permitir (e até incentivar) que o Estado seja carcomido por carunchos?
O governo também deveria ser mais explícito em reconhecer que essa parceria governo-setor privado é de forte interesse para o setor público e para a sociedade, pelo menos por quatro razões: (1) porque gera infraestrutura e serviços públicos que antes não existiam e estes, por sua vez, se tornam multiplicadores de produção e de emprego; (2) porque, apesar dos pesares, no que sabe fazer melhor do que os administradores públicos, o setor privado tende a ser mais eficiente; (3) porque, com mais concessões e mais licitações, o Estado ganha mais impostos, mais royalties e mais contribuições que pode utilizar no cumprimento de seus programas democraticamente escolhidos; e (4) porque contribui para o investimento estrangeiro de boa qualidade, numa situação em que a poupança interna é uma insignificância e as contas externas estão no vermelho.
Apesar dos latidos que provêm dos dois lados da estrada, a caravana passa. Está em seu poder avançar mais e ganhar ainda mais com a nova postura, se improvisar menos e se confiar o processo a profissionais.
CONFIRA:
O gráfico mostra a trajetória das cotações do dólar em reais desde agosto. Foi uma valorização de 4,07%.
Não foi só isso. Nesta quarta-feira, em exposição a investidores de Cingapura, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que a valorização do real obtida nas últimas semanas só foi possível graças à atuação do Banco Central que, assim, evitou efeito câmbio sobre a inflação. Não foi só isso. O principal fator que reverteu a desvalorização do real foi a decisão do Fed (o banco central dos Estados Unidos) de adiar a reversão da política de emissão de dólares.