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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A China leva vantagem

Os dirigentes do mundo rico estão preocupados com uma dolorosa novidade. A recuperação da crise - que é frágil, mas é recuperação - está acontecendo em detrimento da criação de empregos. As empresas produzem e vendem mais, mas não contratam. Na verdade, o desemprego está aumentando ou não está caindo.

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Atualização:

Há dez dias, o presidente do Fed (banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, fez um apelo para que os bancos americanos não deixem de conceder crédito para as pequenas empresas. É nesse segmento que pode haver aumento significativo de postos de trabalho: "Tornar o crédito acessível para as pequenas empresas é crucial para a recuperação da nossa economia e deverá ser o centro de nossos atuais desafios políticos", disse.

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Se esse apelo vai ou não ser atendido é outra conversa. O que importa é que, na atual fase de convalescença da economia ocidental, o emprego não reage a despeito do despejo de US$ 10 trilhões em recursos pelos Tesouros e bancos centrais com o objetivo de reativar a economia.

Isso está acontecendo por três razões.

Primeira, porque aumentou a utilização de Tecnologia da Informação (TI), que dispensa mão de obra. Trata-se de todo aparato de comunicação eletrônica que reduz a necessidade de formação de estoques, de almoxarifados, instalações, máquinas, equipamentos e pessoal. É provável que muitas empresas já tivessem feito investimentos em TI alguns anos atrás, mas, por inércia, tenham mantido intacto seu quadro de funcionários, até que veio a crise que as levou a enxugar custos. Quando veio a reativação, essas empresas provavelmente perceberam que poderiam aumentar sua produção e seu faturamento sem necessidade de novas contratações, porque o uso intensivo de TI ajudou a aumentar a produtividade.

Segunda razão, o medo do desemprego ou, simplesmente, a falta de oportunidades no mercado de trabalho, devem estar levando os trabalhadores dos Estados Unidos e da Europa a aceitar produzir mais por menos salário. Os analistas internacionais têm feito menções frequentes desse fato.

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E, terceira razão, a injeção de créditos e recursos oficiais destinados a reativar o consumo nos países de alta renda está produzindo um efeito inesperado. Está criando mais mercado para produtos chineses ou asiáticos. Excelente indicação disso é o fato de que as exportações da China no primeiro semestre deste ano comparadas com as do primeiro semestre de 2009 estão crescendo a ritmo impressionante, de 35,2%.

Essas mercadorias chegam mais em conta aos portos dos Estados Unidos e da Europa porque a crise está favorecendo a compressão de preços. E, cada vez que um americano ou um europeu compra um produto asiático, está ajudando a fechar um posto de trabalho no seu país. Não dá para sustentar que as grandes empresas americanas e europeias estejam sendo prejudicadas por essas exportações asiáticas porque praticamente todas elas estão solidamente fincadas na China e no resto da Ásia, tirando proveito da mão de obra bem mais barata.

Enfim, são coisas que vão acontecendo, sem que os dirigentes políticos tenham se dado conta dessas consequências.

Confira

Contraponto. Não houve ninguém que tenha ficado satisfeito com o depoimento de Ben Bernanke, presidente do Fed (o banco central americano), no Congresso dos Estados Unidos. O problema é que Bernanke não está em condições de prometer nada.

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Não esperem nada. Políticos, empresários e o mercado financeiro queriam uma indicação de que o Fed estava preparando o lançamento de algum estímulo adicional para ajudar a recuperação da economia americana que está prostrada. Bernanke não prometeu nada e, mais do que isso, avisou que "não há medidas iminentes".

Em todo o caso... Depois, atendo-se às possibilidades e ao meramente teórico, Bernanke admitiu que poderia voltar a agir se ficar claro que a recuperação estiver a perigo. Mas não deu nenhuma indicação de que isso vai acontecer tão cedo. O mercado financeiro sucumbiu. As bolsas caíram e o mau humor invadiu os computadores dos administradores de carteiras.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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