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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A Europa compra tempo

Enquanto os manifestantes fazem protestos no Sintagma de Atenas (praça da Constituição) e prossegue a greve geral de 48 horas, o Congresso da Grécia se reúne de hoje até o final desta semana para examinar o plano de sacrifícios negociado pelo primeiro-ministro George Papandreou com o Fundo Monetário Internacional e os chefes de Estado da área do euro.

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Atualização:

Esse duro plano de austeridade se resume a aumento da arrecadação (com elevação de impostos e privatizações) e redução das despesas, especialmente com demissões de funcionários públicos. Uma Taxa Solidária incrementará os impostos sobre a renda entre 1% e 5% e reduzirá em 33,3% o limite de isenção. A taxação de bares e restaurantes aumentará de 13% para 23% e os bens de luxo também serão sobretaxados. Os principais portos (o do Pireu e o de Salonica) serão privatizados. O total arrecadado com a privatização deverá alcançar 50 bilhões de euros até 2015. Nos próximos quatro anos será colocada em marcha as demissões de 150 mil funcionários públicos (20% do total). Além disso, os salários dos funcionários que permanecerão a postos serão submetidos a cortes, cujas proporções ainda serão anunciadas. As aposentadorias, pensões e outros benefícios sociais também serão reduzidos.

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Os analistas apostam em que, apesar dos protestos e da atual demonstração de má vontade por parte dos políticos, esse plano de austeridade acabará passando no Congresso.

A maioria com que hoje conta o governo de Papandreou é frágil. Bastaria que cinco ou seis mudassem de lado para que o plano fosse rejeitado. Por isso, imagina-se que o governo já deva ter providenciado algum novo argumento capaz de convencer os representantes do povo.

Enquanto isso, os governos da França e da Alemanha seguem enquadrando os seus bancos para que aceitem "voluntariamente" a rolagem, por mais 30 anos e a juros camaradas, de pelo menos 70% dos seus ativos em títulos da Grécia.

Se o plano passar no Congresso e se os bancos forem voluntariamente convencidos - sabe-se lá a troco de que compensações - a Grécia, que perdeu o acesso aos financiamentos bancários, receberá os 12 bilhões de euros em empréstimos novos correspondentes à nova tranche do primeiro resgate de 110 bilhões de euros. E, em 2013, novo pacote em empréstimos de US$ 100 bilhões de euros terá de ser providenciado, desta vez pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla em inglês).

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Apesar de tudo, não dá para contar com a volta definitiva do equilíbrio fiscal para a Grécia. Essa operação tem por objetivo manter a respiração da economia. Apesar dos sacrifícios do povo grego, do aumento da arrecadação e das operações de privatização, não ficará garantida ainda receita suficiente para o pagamento da dívida hoje, de 160% do PIB.

Tudo se passa como se a União Europeia (e não apenas o bloco do euro) esteja se empenhando para montar um enorme aparato que dê a impressão de que algo de substancial está sendo feito para evitar uma quebra descontrolada da Grécia e, dessa maneira, evitar a contaminação e manter à tona também as economias de Portugal, Irlanda e, possivelmente, também de Itália e Espanha.

Enfim, trata-se de ganhar tempo e, assim, evitar um desastre imediato, para que os dirigentes consigam montar esquemas que, mais à frente, possam dar um mínimo de consistência à área do euro.

CONFIRA

Não há concentração? Independentemente de como se meça a fatia de mercado da nova empresa que resultar da fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour, haverá enorme concentração de mercado. Se isso não é concentração excessiva, então não há mais concentração excessiva. Por falar nisso, o anúncio da fusão entre o Pão de Açúcar e a Casas Bahia já tem quase dois anos e, até agora, essa operação não foi julgada pelo Cade.

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Dinheirama pública. Tão ou ainda mais esquisito é o BNDES repassar nada menos de 2 bilhões de euros para calçar uma operação que não trará nenhum avanço ao desenvolvimento do País.

Balela. O argumento de que o BNDES abrirá mercado para produtos brasileiros no varejo da França é escandalosamente esfarrapado. O Grupo Casino, concorrente do Carrefour no país, tem uma sociedade 50%/50% com o Grupo Pão de Açúcar e, no entanto, ainda não garantiu mercado para nenhum produto brasileiro.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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