PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A volta do tripé

Nas plataformas de economia, a oposição segue relativamente unida; Ambas as chapas defendem a volta do tripé econômico abandonado pela mistura de heterodoxia com populismo, adotada pela presidente Dilma

Foto do author Celso Ming
Atualização:

O professor Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos coordenadores do programa econômico da candidatura que deverá ser encabeçada agora por Marina, está avisando que não há divergências significativas entre as propostas de política econômica da chapa PSB-Rede e do PSDB. Enfim, nas plataformas de economia, a oposição segue relativamente unida.

Ambas as chapas defendem a volta do tripé econômico abandonado pela mistura de heterodoxia com populismo, adotada pela presidente Dilma, que ela chegou a chamar de Nova Matriz Macroeconômica. A volta ao tripé significa que os três principais comandos da economia reunidos pelo governo teriam um manejo de tipo clássico.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

Giannetti. Oposição alinhada (FOTO: EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO)

Ou seja, a política fiscal teria de perseguir o equilíbrio das contas públicas e a estabilização da dívida por meio do cumprimento de um superávit primário (sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida), de 3,1% a 3,5% do PIB; a política monetária manteria o volume de moeda na economia em proporções tais (nível dos juros) que garantissem a inflação na meta, que hoje é de 4,5% ao ano; e, em vez de seguir represada, a política cambial teria de voltar a deixar que as cotações da moeda estrangeira flutuem, com algum grau de sujeira, é claro, que é o que cabe de monitoramento pelo Banco Central.

Três são as observações que podem ser feitas a partir da observação de Giannetti. A primeira é a de que, embora permeiem as escolhas pelas urnas, as propostas de política econômica muito raramente são explicitadas nas campanhas eleitorais. O eleitor não se comove com o tamanho do rombo em conta corrente, com o cumprimento ou não das metas fiscais. O que ele sente é a mordida da inflação no seu orçamento doméstico e as ameaças a seu emprego. Embora sejam decisivas nas urnas, essas variáveis tendem a permanecer mais ocultas.

Publicidade

A segunda observação é a de que a defesa da política econômica que melhor poderia pavimentar o caminho para o crescimento sustentável e para o retorno da confiança não significa garantia de governabilidade. Esta depende da capacidade de coordenação do governo. Se eleito, nenhum dos três principais candidatos teria maioria no Congresso. A capacidade de liderança e de mobilização conta tanto quanto, ou até mais, do que a defesa de uma proposta equilibrada.

Em terceiro lugar, é bastante improvável que, num eventual segundo mandato, a presidente Dilma pudesse repetir uma política econômica tão desequilibrada quanto a que manteve neste primeiro. O estilo de governo pode continuar o mesmo: voluntarista, imediatista e mal amarrado. Mas a simples necessidade de correção dos problemas que aí estão vai exigir a volta aos manuais (back to the book).

Os preços administrados terão de ser corrigidos; a inflação não poderá mais ser contida pela âncora cambial. E, para garantir a arrumação geral, será inevitável uma política fiscal substancialmente mais austera. A novidade que deverá permear as propostas de política econômica do próximo governo é a de que já não há margem para os experimentalismos cujos resultados sejam esse crescimento miserável, inflação no teto e economia desarrumada. Pode-se ter um orçamento que dê maior ou menor importância ao atendimento das demandas sociais, mas não se pode mais desafiar o equilíbrio das contas públicas.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

O gráfico mostra como evoluiu e a quantas está o nível de confiança do industrial brasileiro.

Publicidade

Caiu de novo A Pesquisa Focus, do Banco Central, trouxe a 12ª queda da projeção do mercado para o crescimento do PIB deste ano. A média das cerca de 100 instituições que apresentam semanalmente suas projeções é de um avanço de apenas 0,79%. Dia 29, saem as Contas Nacionais do segundo trimestre. É resultado que pode definir novas revisões, tanto para cima como para baixo, com impacto potencial sobre a direção da campanha eleitoral.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.