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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Ameaças ao etanol

O governo Dilma não está lidando bem com a nova perspectiva de desabastecimento de álcool e de alta de preços ao final deste ano.

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Ameaçou os usineiros com confisco sobre as receitas com exportações de açúcar e avisou que mais investimentos da Petrobrás serão canalizados para a produção de cana-de-açúcar e etanol. Nesta quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, indicou que o governo poderá cortar financiamentos oficiais à produção de açúcar, na suposição de que assim enquadrará os usineiros. Ou seja, traumatizado pela inesperada disparada dos preços do álcool no início de 2011 e seu forte impacto sobre a inflação, o governo está se conduzindo como se o problema não passasse de chantagem do setor, a ser desarmada com imposição de baterias de castigos.

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A questão de fundo é a estagnação da produção de álcool em torno dos 27 bilhões de litros por ano, enquanto o consumo cresce a mais de 5% ao ano. Se não houver importação de álcool, é quase certa nova escalada de preços no primeiro trimestre de 2012.

A primeira falsa solução consiste em imaginar que é preciso garantir estocagem para os meses de entressafra (dezembro de cada ano a maio do ano seguinte). E, no entanto, se não houver produção suficiente, não haverá o que estocar.

A segunda solução equivocada é reduzir de 25% para 18% a participação de álcool anidro na mistura com a gasolina para que sobre mais álcool a hidratar e ser canalizado para abastecimento dos carros flex. O volume de álcool que vai na mistura carburante não passa de 30% do total. Reduzir o consumo nesse segmento garantirá um adicional de oferta de álcool hidratado apenas marginal.

A terceira falsa solução é pretender que o usineiro exporte menos açúcar e canalize mais matéria-prima (caldo de cana) para as destilarias de etanol. No entanto, não há suficiente capacidade ociosa nas destilarias para que possa concorrer para maior produção de álcool. Além disso, se os preços do açúcar forem compensatórios, por que não seguir exportando e, com os resultados, importar mais etanol?

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Finalmente, parece insensatez empurrar a Petrobrás para a cultura de cana-de-açúcar e aumentar sua participação no setor do etanol num momento em que tem tanto o que fazer e outras prioridades no desenvolvimento e na exploração do pré-sal. De todo modo, se a Petrobrás aumentar seus investimentos na área, os resultados não aparecerão antes de três anos.

A solução consiste em garantir mais investimentos dos que já estão no ramo. Há três anos, não aumentam nem a massa verde (área plantada de cana) nem a capacidade de processamento das usinas, hoje de 650 milhões de toneladas anuais. Os investimentos têm-se limitado a incorporações de empreendimentos mal resolvidos ou com baixa produtividade por causa de problemas de gestão.

As margens do setor estão se estreitando. Os potenciais interessados preferem dedicar-se à produção de soja e de milho, cujos retornos têm sido mais satisfatórios.

Afora isso, não será possível assegurar mais estímulo ao produtor de álcool enquanto os preços da gasolina se mantiverem achatados: sempre que os preços do álcool passarem de 70% dos preços da gasolina, o consumidor flex optará por ela. Isso significa que o governo precisa ter uma política de combustíveis, e não limitar-se a ameaçar os usineiros.

CONFIRA

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Vai ficar por aí. Como esperado, o Fed (o banco central dos Estados Unidos) manteve os juros entre 0% e 0,25% ao ano. E avisou que, concluída a recompra de US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro americano, no fim deste mês, não fará novo afrouxamento quantitativo.

Esta é a intenção. Haver ou não um novo programa do tipo, dependerá do comportamento do emprego e da economia dos Estados Unidos. Se a Europa não solucionar sua crise e, pelo efeito contágio, o mundo for ameaçado por uma nova recessão, o plano voltará à pauta.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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