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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Aos cacos

Já não são apenas os estragos já conhecidos, do crescimento medíocre, da inflação perigosamente acima do teto da meta e de recordes de baixa nos níveis de confiança...

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Atualização:

O primeiro governo Dilma termina aos cacos. Se produzir uma enorme operação de recuperação ainda poderá salvar seu segundo mandato. Mas não há sinais disso. Ela própria e seus ministros seguem afirmando que não há nada de especialmente errado na economia e que nada deve mudar.

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Já não são apenas os estragos já conhecidos, do crescimento medíocre, da inflação perigosamente acima do teto da meta e de recordes de baixa nos níveis de confiança.

Para não ficar atrás dos fatos e da ação de instituições estrangeiras, a Polícia Federal decretou nesta sexta-feira a prisão do ex-diretor da Petrobrás e de pelo menos 20 executivos de empreiteiras ligados a evidências de corrupção.

A Petrobrás vai sendo afogada em escândalos. Declara oficialmente que não sabe como ficaram suas contas do terceiro trimestre e menos ainda como ficará o balanço anual. Desta vez, é o auditor, a internacional PricewaterhouseCoopers (PwC), que se recusa a passar atestado de confiabilidade do seu balanço. Não ousa atropelar as determinações da Security Exchange Commission (SEC), o guardião do mercado de ações dos Estados Unidos, que tem regras rígidas para o caso de corrupção.

O Ministério Público da Holanda concluiu esta semana que a empresa SBM offshore, fornecedora de embarcações para a Petrobrás, fez "pagamentos indevidos" no Brasil. Para evitar processo judicial, a SBM pagará multa de US$ 240 milhões. Ou seja, antes que a Petrobrás e o governo reconhecessem o pagamento de propinas, foram instituições estrangeiras e a PwC que tomaram a iniciativa de denunciar o esfolamento.

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O equilíbrio das contas públicas já não significa mais nada, porque o governo tratou de mudar o significado das palavras. Pode produzir rombos de qualquer tamanho e ainda considerá-los superávits. Por enquanto, pretende que o novo truque se limite a 2014. Mas quem faz um cesto faz um cento, diz o ditado. O orçamento de 2015 já vem montado em ficções. Aqui vão duas: a economia crescerá a 3% e a inflação será de apenas 5%.

 Foto: Estadão

Nesta sexta, o Ministério do Trabalho divulgou resultado negativo na criação de empregos. É a primeira vez, desde 1999, que a economia demite mais do que emprega em meses de outubro. O País perdeu 30,3 mil empregos registrados. Nas explicações para o ocorrido, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse qualquer coisa. Atribuiu o insucesso à queda dos investimentos causada pelas incertezas que se seguiram tanto à seca quanto ao processo eleitoral. Ou seja, o ministro produziu uma novidade. Até hoje, o período das eleições era conhecido como grande empregador de pessoal, de produtores de programas eleitorais, de cabos eleitorais e distribuidores de panfletos. (Veja ainda o Confira.)

A resposta do governo para a sucessão de escândalos de corrupção é atribuí-la às práticas de financiamento de campanha eleitoral e pedir reforma política por meio de um improvável plebiscito.

Agora que ficou mais difícil continuar o saque da Petrobrás, também ficará mais difícil molhar a mão dos "trezentos picaretas" do Congresso. A presidente Dilma terá de montar seu governo e dizer o que fará com esse pandemônio.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

Esta foi a evolução das vendas do comércio varejista dos últimos 12 meses. É uma indicação de que o consumo continua aumentando mais rapidamente do que a produção. O resultado tende a ser mais inflação.

Como é que fica? Pergunta inocente: se os diretores das grandes empreiteiras passaram a ficar sujeitos à prisão porque não tiveram outra saída senão pagar pedágios sabe-se lá a que autoridade, como é que ficam as novas concorrências públicas, os leilões de concessão, as Parcerias Público-Privadas, as obras do PAC e tanta coisa mais?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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