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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Aperto nos juros

O Banco Central não enfrenta apenas o desafio de combater a inflação, mas, também, o de reconquistar credibilidade, o que pode estar procurando agora

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Atualização:

Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), chefiado por Alexandre Tombini, tomou a decisão inesperada de aumentar os juros básicos (Selic) em 0,25 ponto porcentual, para 11,25% ao ano, um dos mais altos do mundo.

Reconhece, na prática, que seus comunicados anteriores estavam errados. O nível até aqui de moeda não foi suficiente para que a inflação entrasse "em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção". E isso já vinha lá de trás, e não apenas "desde a última reunião".

 Foto: Estadão

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Tombini. Além da inflação (FOTO: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO)

Ninguém acreditava que os juros estavam de bom tamanho. A aposta era a de que o BC não os alteraria na reunião desta quarta-feira apenas para dar a impressão de que daria um tempo após as eleições. Isso demonstra o reduzido nível de confiança na condução da política de juros.

Por falar nisso, o BC não enfrenta apenas o desafio de combater a inflação, mas, também, o de reconquistar credibilidade, o que pode estar procurando agora. Essa tarefa parece ter ficado mais complicada porque a própria presidente Dilma avisou durante a campanha eleitoral que o BC não tem e não terá carta branca para administrar a política monetária. Não passará de instrumento das decisões do governo.

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Para desempenhar sua tarefa de reconduzir a inflação à meta, o BC continua esperando a colaboração da política fiscal (administração das receitas e despesas do setor público), o que está longe de acontecer. Até mesmo o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araujo, já reconhecia que "o balanço do setor público não vem se deslocando para a zona de neutralidade". Ou seja, o excesso de despesas do governo, conjugado com a baixa arrecadação, não ajuda a conter a inflação, que deve fechar o ano próxima do teto da meta (6,5% ao ano), podendo ficar até mesmo acima.

Há novas estocadas de alta a caminho. Não há apenas os reajustes dos preços administrados (combustíveis, energia elétrica e transportes urbanos), que não podem ser mais adiados, e o impacto da alta do dólar sobre os preços dos importados - processo que, no comunicado, o Copom chamou de "intensificação dos ajustes de preços relativos". Não dá para ignorar o efeito da prolongada alta dos serviços e é preciso prever os efeitos da seca prolongada. São fatores que já vinham jogando contra o discurso oficial da inflação sob controle.

Nessas horas, sempre aparece quem olhe para o tamanho do PIB e argumente que a atividade econômica fraca, ainda que indesejada, bastaria para frear a inflação. Ou, então, conclua que os juros não deveriam subir porque é preciso evitar a recessão.

O primeiro argumento está correto. O baixo apetite para produção e consumo ainda evita novas disparadas da inflação. O outro não faz sentido.

No atual regime de metas, não cabe ao BC o papel de puxador da atividade econômica. E ainda se coubesse, como no caso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), não seria para aumentar o ritmo do PIB que o BC teria de reduzir o nível dos juros, mas para aumentar o emprego, o que não faria sentido na situação atual de pleno-emprego.

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Na próxima reunião, do dia 3 de dezembro, os juros podem subir mais.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Aí está a evolução da arrecadação da Receita Federal nos últimos sete meses.

Risco de rebaixamento A fraqueza das receitas do governo tem como causa principal o baixo crescimento econômico e reforça a indicação de que a meta fiscal deste ano não será alcançada. Nível insatisfatório de arrecadação, por sua vez, é porta aberta para aumento do risco de rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil. Não será fácil reverter esse risco. E será mais complicado ainda se o governo Dilma não tratar de restaurar a confiança.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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