Mas há nesse discurso mais do que falta de sugestões para uma saída; há alguma inconsistência. A presidente critica as "políticas fiscais ortodoxas" e adverte que a "austeridade, quando exagerada e isolada do crescimento, derrota a si mesma".
Em seguida, condena as políticas monetárias expansionistas que desalinham o câmbio, ou seja, as emissões de moeda feitas pelos grandes bancos centrais, que não levam a lugar algum e, de quebra, geram efeitos colaterais graves aos emergentes, como o Brasil - porque os inundam de moeda estrangeira e tiram competitividade do seu setor produtivo.
Em outras palavras, para a presidente Dilma, tanto estão erradas as respostas de natureza fiscal (austeras demais) quanto as respostas monetárias (expansionistas demais). Sem ser mais específica, a presidente pede "ajustes fiscais apropriados e estímulos ao investimento e à demanda" que interrompam a recessão e assegurem o crescimento.
Ora, essas políticas de incentivo à produção e ao emprego, como apontadas por Dilma, implicariam renúncia tributária (quebra de arrecadação) e elevação das despesas públicas. Tanto uma como outra causariam aumento das dívidas nacionais ou prolongamento dos prazos para seu resgate. O problema está em que grande número de países não encontra mais financiamentos a juros aceitáveis no mercado para esses rombos. Pedir programas de austeridade mais flexíveis de modo a evitar tanto sacrifício por parte do consumidor e tanta paradeira na atividade econômica também exigiria aumentar o endividamento e, por causa disso, os interessados em financiá-lo.
Não é outro fator senão o alto custo do ajuste fiscal que está obrigando os grandes bancos centrais a atuarem no limite da irresponsabilidade e a se dedicarem a despejos ilimitados de moeda.
Quando lamenta que "as principais lideranças do mundo desenvolvido ainda não encontraram o caminho", a presidente Dilma indica que o principal obstáculo não é sequer técnico, mas político - no que tem razão.
O pronunciamento de terça-feira teve um subentendido: faltam condições políticas que permitam a montagem de um conjunto de ações que possibilitem a flexibilização fiscal adequada. No momento, é o Partido Republicano nos Estados Unidos que veta uma forte expansão da dívida pública (emissão de títulos do Tesouro); e são principalmente os alemães (mas não só eles) que não aceitam um cronograma menos rígido de resgate dos enormes passivos soberanos.
No entanto, é irrealista descartar da equação política tanto a capacidade de bloqueio dos republicanos dos Estados Unidos quanto a intransigência dos alemães. Qualquer solução terá de levar em conta o apoio ou a oposição deles. E, no mais, se for para flexibilizar políticas de austeridade, somente um programa de alta credibilidade será capaz de garantir financiamento para a expansão de passivos que ela exigiria.
Mas qual seria ele?
CONFIRA
O estoque de crédito fornecido ao mercado pelos bancos, que era de 33,1% do PIB em agosto de 2007, saltou para 51,0% do PIB em agosto de 2012. As operações estão se expandindo ao ritmo de 15% (em 12 meses), dentro do pretendido pelo Banco Central.
Calote. A inadimplência no crédito para pessoas físicas continua especialmente elevada. Manteve-se inalterada, entre julho e agosto, em 7,9%. A inadimplência no crédito para pessoas jurídicas permanece relativamente estabilizada em torno dos 4,0% a 4,1% desde outubro do ano passado.