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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Boom ou bomba?

Fatos estranhos levam os analistas financeiros do mundo a advertir para a iminência do estouro de nova bolha financeira da internet.

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Atualização:

Na semana passada, a revista The Economist publicou matéria de capa intitulada A nova bolha tech, que organizou e aprofundou o assunto preocupante. Há 12 dias, a Microsoft pagou US$ 8,5 bilhões pela Skype, serviço gratuito (de telefonia) pela internet de faturamento insignificante. E, nesta semana, o LinkedIn, rede social em que qualquer um pode divulgar, também de graça, sua ficha profissional (curriculum vitae), transformou-se num retumbante sucesso de valorização na Bolsa de Nova York depois de abrir seu capital. Seu valor inicial de mercado foi por si só surpreendente: US$ 4 bilhões ou quase 16 vezes seu faturamento anual. Ainda assim, suas ações se valorizaram 106% nos dois primeiros dias de negociação (quinta-feira e nesta sexta) e o valor da empresa passou dos US$ 8 bilhões.

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Feitas as contas pelos mesmos critérios (cotações de suas ações em Bolsa), o valor de mercado do Twitter supera os US$ 4,5 bilhões e o do Facebook, os US$ 65 bilhões. As receitas deste último se limitam a alguma publicidade. Não incluem prestação de serviços, como a das empresas de telefonia. A espanhola Telefónica, uma das maiores do mundo, por exemplo, com 300 milhões de clientes, fatura cinco vezes mais do que o Facebook, que aponta como principal patrimônio as fichas de 600 milhões de navegadores.

São distorções assim que levam os analistas a perguntar se não vai sendo reeditado o estouro de bolha das "ponto com" do ano 2000, que o então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan, denunciava como "exuberância irracional". Naqueles dias, centenas de empresas se valorizaram milhares de vezes praticamente do nada e, lá pelas tantas, reduziram-se a respingos de sabão que aniquilaram patrimônios de bilhões de dólares.

Mais tarde, o próprio Greenspan foi acusado de ter proporcionado a criação dessas bolhas por manter por muito tempo os juros básicos dos Estados Unidos em torno de 1% ao ano. Havia abundância de dinheiro à procura de retorno e boa parte dele inflou ações dessas empresas.

Há mais de dois anos, os juros básicos nos Estados Unidos beiram o zero por cento e, além disso, o Fed despejou outros US$ 1,9 trilhão para tentar reerguer a economia. Esse canudão segue soprando bolhas sem parar, avisam os críticos.

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Em todo o caso, entre essa bolha e a provável bolha seguinte, há diferenças a levar em conta. No ano 2000, só entre 4% e 6% da população mundial navegava na internet. Hoje, 2 bilhões dispõem de banda larga e 4 bilhões carregam um celular. O Facebook, o Skype e o iPhone não existiam nos tempos da primeira grande bolha e, no entanto, hoje mobilizam multidões, como as que acontecem nesta Primavera Árabe ou nas manifestações de jovens neste mês em Madri.

Foram, também, o Facebook e a internet que tornaram possível a enorme gozação de uma semana atrás em São Paulo, por ocasião do churrasco com farofa que celebrou os protestos da "gente diferenciada" contra a construção da estação do metrô do bairro de Higienópolis.

As enormes valorizações do momento imaginam que essas forças impressionantes de comunicação, cedo ou tarde, serão importante fonte de faturamento. É o pote de ouro enterrado onde o arco-íris se encontra com a linha do horizonte.

CONFIRA

"Revolução das babás". O jornal The New York Times tratou nesta sexta-feira do que chamou de "revolução das babás no Brasil". A matéria conta que houve uma alta média de 34% nos salários desse segmento.

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Direitos garantidos. E chama a atenção para novo foco de tensão entre as babás e a classe média, acostumada a pagar baixos salários. Antes, as babás aceitavam trabalhar 15 dias com apenas duas folgas. Agora, fazem jornadas de segunda a sexta-feira e exigem pagamento de hora extra nos finais de semana.

Antiterrorismo. O Estadão publicou em 20 de março matéria sobre o "Grupo Antiterrorismo de Babás". São cerca de 20 mães da elite paulistana que se uniram contra o que classificam como "petulância" e "abusos de direitos" de suas funcionárias. Em e-mail trocado entre elas, uma das mães se diz indignada com a 'história sem pé nem cabeça' de uma lei que a obriga a pagar em dinheiro vivo os feriados trabalhados pela babá.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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