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Jornalista e comentarista de economia

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As rendas com prostituição, narcotráfico, comércio ilegal de armas, contrabando e lavagem de dinheiro entram obrigatoriamente no PIB da União Europeia

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

As rendas com prostituição, narcotráfico, comércio ilegal de armas, contrabando e lavagem de dinheiro entram obrigatoriamente no PIB da União Europeia. O Eurostat, o instituto encarregado das estatísticas do bloco, já tomou as providências para que a novidade faça parte das Contas Nacionais de cada país.

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Inglaterra, Itália, Estônia, Suécia, Noruega, Finlândia e Áustria já avançaram nessa contabilidade. A tão vitoriana Inglaterra concluiu que as atividades ilegais correspondem a 10 bilhões de libras (US$ 16,8 bilhões), magnitude que aumentou o volume do PIB inglês em 0,6 ponto porcentual. A partir de setembro, a Itália incorporará as novas rubricas em suas contas.

A questão é controversa do ponto de vista ético porque deve acolher atividades banidas e ilegais.

Renzi. Alívio (FOTO: Reuters)  Foto: Estadão

Do ponto de vista político, o aumento da renda medida de uma economia pode ser interessante porque facilita o cumprimento de certas exigências. Na área do euro, por exemplo, um país não pode apresentar uma dívida pública superior a 60% do PIB e um déficit público superior a 3% do PIB. O primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi (foto), parece ter acolhido a exigência com alívio porque está obrigado a apresentar um déficit de suas contas públicas não superior a 2,6% do PIB, ou seja, em euros, pode agora apresentar déficit mais alto.

As agências de classificação de risco também levam em conta o tamanho do PIB para aferir a capacidade de uma economia ou de uma empresa de honrar seus passivos. É como acontece com o salário. Quem ganha mais pode enfrentar mais dívidas. Se o PIB fica mais alto, a dívida e as contas públicas ganham um empurrão.

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Neste ano, o governo Dilma pediu que o IBGE revisse a participação do setor de serviços no PIB, dentro do pressuposto de que os novos cálculos ajudariam a aumentar a renda real do brasileiro. O IBGE ficou de apresentar a novidade ainda em 2014. O secretário do Tesouro do Brasil, Arno Augustin, vem se notabilizando pelos cálculos mágicos que aplica às contas públicas. Deve estar salivando com a decisão da União Europeia.

Sempre sobrará alguém para lembrar que a economia do Brasil não pode parecer mais nanica do que realmente é, especialmente depois que outras potências passaram a adotar outras metodologias para avaliar o tamanho do PIB.

Como medir a renda e os serviços prestados nos bordéis, na produção e tráfico de drogas, no contrabando ou, simplesmente, na economia informal é um complicador que agora vai ser examinado por essas novas exigências de fato.

Há anos, o IBGE já vinha sendo chamado a calcular o tamanho da economia informal que engloba atividades não necessariamente ilegais, como a própria prostituição, bicos e trabalhos de autônomos. Os resultados nunca foram rigorosos, mas houve um tempo em que se entendeu que a economia paralela no Brasil correspondia a alguma coisa em torno dos 30% do PIB.

Do ponto de vista da avaliação do crescimento econômico, não basta ter a medida de um ano e a partir daí concluir que, em vez de 1,5%, o PIB avançou 2,2%. É preciso ter uma referência anterior calculada com um mínimo de rigor para servir de comparação.

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 CONFIRA:

 Foto: Estadão

A variação da primeira prévia do IGP-M de junho veio negativa, graças à forte queda dos preços no atacado. O gráfico mostra como foi a evolução contada em períodos de 12 meses.

Mais um recorde

As estimativas da safra deste ano vieram muito parecidas. O IBGE aponta 192,3 milhões de toneladas de grãos (mais 2,2%). A Conab, 293,6 milhões de toneladas (mais 2,6%). A forte estiagem não parece ter provocado grandes estragos. Este será mais um desempenho recorde do setor agropecuário do Brasil.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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