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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Cadê o etanol?

A alta do etanol começa a atacar o bolso do consumidor brasileiro. De maio até agora, o salto dos preços do produtor às distribuidoras foi de 36,8%.

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Atualização:

Pouco a pouco, essa esticada vai chegando às bombas dos postos de combustível. Somente nas últimas quatro semanas, os preços médios do etanol hidratado subiram 6,2% no País, apontam os levantamentos da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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Desta vez, esse aumento não deve desaparecer em abril de 2011, quando recomeça a safra de cana. Deve persistir durante todo o ano. O presidente da Datagro Consultoria, Plínio Nastari, adverte que, na média, os preços serão mais altos do que os praticados em 2008 e 2009, podendo atingir o nível de R$ 1,80 por litro na entressafra.

A explicação para essa disparada está na expectativa de oferta de cana em 2011. Após quase uma década de expansão, o setor sucroalcooleiro enfrentará no ano que vem os efeitos da pisada nos freios acontecida ao longo de 2009 e 2010. A previsão é de que, na melhor das hipóteses, a próxima safra seja equivalente à deste ano.

Vários fatores explicam esse quadro de relativa estagnação. O principal deles é a estiagem dos últimos cinco meses que maltratou as plantações. A crise financeira iniciada em 2008 também pegou os produtores de surpresa, reduzindo o crédito e o apetite por investimentos. Em 2009, por exemplo, 19 usinas iniciaram a moagem de cana. Neste ano, serão apenas 10 e, em 2011, no máximo 5.

A boa notícia é que passada essa fase, as empresas voltaram a investir, principalmente na renovação dos canaviais, o que, paradoxalmente, também prejudicará a próxima safra. "A cana nova que será plantada a partir de agora só poderá ser colhida em 2012", explica Nastari.

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Outro ponto a ser levado em conta é o de que uma diminuição na quantidade de matéria-prima tende a prejudicar mais a produção de etanol do que a de açúcar, cujas cotações estão batendo recordes nas bolsas internacionais. A tudo isso junta-se o fato de que a demanda por álcool deve continuar forte, consequência direta do aumento da frota de veículos flex. Das 2,36 milhões unidades leves vendidas entre janeiro e setembro, 86,6% são flex.

O consumidor já aprendeu que o álcool é mais vantajoso quando seus preços não ultrapassarem 70% os da gasolina. Em setembro do ano passado, por exemplo, saía mais barato abastecer com etanol em 22 Estados. Em setembro deste ano, em apenas 11. Isso significa que a gasolina deve roubar, pelo menos temporariamente, uma boa fatia do mercado do etanol. As estatísticas da ANP mostram que as vendas de álcool hidratado caíram mais de 14% no primeiro semestre em comparação com as do mesmo período de 2009.

Diante do cenário de oferta ajustada no próximo ano até mesmo para suprir a demanda doméstica, é provável que as exportações de etanol também diminuam. Nastari avisa que as remessas para o exterior só voltarão a crescer quando a produção de cana no Brasil se recuperar, o que está previsto para ocorrer na safra 2012/2013. Mas, para que isso aconteça, os produtores terão que se endividar menos, investir mais e cuidar melhor dos canaviais. / COLABOROU ISADORA PERON

Confira

Decisão importante. As conclusões do encontro dos ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do Grupo dos 20, realizado sábado na Coreia do Sul, foram mais importantes do que previram as autoridades brasileiras, que decidiram não ir.

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Mudança no FMI. A principal decisão foi o aumento de participação dos países emergentes na direção do Fundo Monetário Internacional (FMI) , uma antiga reivindicação brasileira. O impacto dessa decisão será ainda mais forte se as funções do Fundo forem reforçadas.

Ficou para depois. A proposta dos Estados Unidos, feita pelo secretário do Tesouro, Tim Geithner, de impor redução gradativa de superávits e déficits nas contas correntes (contas externas) das mais importantes economias encontrou resistência. Isso não significa que a proposta será rejeitada. O tema será retomado na reunião de chefes de Estado do G-20, agendado para os dias 11 e 12, a ser realizado em Seul, também na Coreia do Sul.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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