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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Cartão amarelo

Embora o governo Dilma sustente que não há nada de especialmente errado com a economia, uma das mais importantes agências de classificação de risco, a Moody’s, nesta terça-feira disse o contrário e advertiu o País com o cartão amarelo

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Atualização:

Embora o governo Dilma sustente que não há nada de especialmente errado com a economia, uma das mais importantes agências de classificação de risco, a Moody's, nesta terça-feira disse o contrário e advertiu o País com o cartão amarelo.

A Moody's é uma das instituições globais cuja função é avaliar a qualidade dos títulos de dívida de um país, de uma instituição ou de uma empresa. Prestam um serviço ao credor que, a partir daí e de outras indicações, examina o grau de risco de calote.

 

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Nesta terça-feira, essa agência avisou que todos os títulos de dívida do governo brasileiro estão mais perto do rebaixamento se não houver ajustes de peso na política econômica. Os principais indicadores que apontam para o aumento do risco do crédito do Brasil são a deterioração das contas públicas e a sequência de baixo crescimento econômico que, por sua vez, implica arrecadação insuficiente e menos recursos que poderiam reduzir o endividamento.

Em junho, o governo Dilma garantira aos diretores da Moody's que tanto o crescimento mais forte do PIB como as metas fiscais seriam alcançadas. Agora que ficou claro que a promessa não será cumprida, a Moody's não vacilou. Avisou que vai deixar cair o facão.

Por enquanto, não há perspectiva de rebaixamento da qualidade da dívida brasileira ao nível de especulação, ou seja, ao nível menos confiável. É que um grande número de bancos e fundos de investimento não pode acolher em sua carteira títulos sobre os quais pairem dúvidas sobre sua qualidade. Menos interesse por um título significa menor procura e, assim, remuneração (juro) mais alta.

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Portanto, o rebaixamento de um título de dívida aumenta o custo financeiro para quem o emite. As consequências para o Brasil não parariam aí. Seria inevitável algum impacto sobre o câmbio (redução da entrada de moeda estrangeira), sobre os investimentos estrangeiros e sobre a capacidade dos bancos brasileiros e das empresas estatais (como Petrobrás, Eletrobrás e BNDES) de levantar empréstimos no exterior.

A Moody's não foi a primeira agência a advertir o País. Em março, a Standard & Poor's reduziu em um degrau a qualidade da dívida do Brasil, última posição antes do grau de especulação.

O governo brasileiro, este e o que for eleito, tem duas opções. A primeira é ignorar esses avisos, com as alegações de sempre, e não providenciar os ajustes, para não provocar desemprego e tal. Pode argumentar, ainda, que advertências como essa são mais uma tentativa de instituições estrangeiras interferirem no resultado das eleições. Nesse caso, aumentaria o risco de deterioração dos títulos e de toda a economia.

A outra opção é corrigir o rumo da economia, voltar aos manuais abandonados quando foi adotada pelo governo Dilma a Nova Matriz Macroeconômica e, assim, criar as bases para uma retomada sustentada da atividade econômica.

Os compromissos assumidos pelos candidatos da oposição, Marina Silva e Aécio Neves, são pela correção de rumos e pela volta à ortodoxia. A presidente Dilma fala em "mudanças para melhorar", mas não disse quais fará nem tampouco qual será sua intensidade.

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CONFIRA:

As estimativas de safra deste ano ficaram próximas uma da outra. A Conab aponta colheita de grãos de 195,47 milhões de toneladas (3,6% acima da anterior). O IBGE ficou com 193,6 milhões de toneladas (2,8% acima). 

Caso Schwartsman O Banco Central (BC) desistiu de processar o analista (e ex-diretor do BC) Alexandre Schwartsman pelas críticas à política monetária. Incompreensível a atitude anterior, de não aceitar críticas. Quer dizer que analista tem de ser como os do Santander, que só falam bem do governo e não têm compromisso de bem orientar o cliente?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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