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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Competitividade perdida

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, está carregado de razão quando afirma que “a indústria não precisa de proteção, precisa de isonomia”

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O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, está carregado de razão quando afirma que "a indústria não precisa de proteção, precisa de isonomia".

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Com isso, Skaf desconsiderou mais uma entre repetitivas propostas que pretendem resgatar a indústria com velhos e sempre ineficazes mecanismos defensivos.

Desta vez foi a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) que costurou com cinco centrais sindicais o movimento denominado Coalizão Capital/Trabalho para a Competitividade e o Desenvolvimento. Tem cunho político com o objetivo de sensibilizar o governo para o resgate da indústria, levá-la a investir e sair do sufoco em que está. "Na década de 80" - adverte o documento - "a participação da indústria de transformação no PIB era de 35%. Desde então, vem caindo e, atualmente, está em 12%."

Skaf. "Não precisa de proteção"( Foto: Clayton de Souza/Estadão)

Para não ficar apenas nas queixas, pede medidas recorrentes ao governo: mais desvalorização cambial, derrubada dos juros de maneira a que "acompanhem padrões internacionais", redução da carga tributária e o fim da cumulatividade de impostos, que é a taxação em cascata, que chega a onerar o produto nacional entre 10% e 15%.

A estratégia desse movimento é equivocada. A indústria não parou de investir por falta de sensibilidade do governo, falta de empurrão político e de apoio dos sindicatos, por falta de incentivos fiscais ou falta de defesa.

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O maior defeito do documento da Coalizão é pretender um câmbio adequado apenas para a indústria, juros feitos sob medida apenas para a indústria, uma política de comércio exterior apenas para a indústria - e não para todo o setor produtivo. É descabido pretender embelezar um corredor da casa, como pretende essa Coalizão, se toda a casa está desarrumada e tem lixo espalhado pelos quatro cantos. A indústria está se desidratando todos os dias, porque perdeu ambiente de negócios, o retorno está minguando, os custos da infraestrutura nacional são proibitivos, o imposto e os juros são os olhos da cara.

Nessas condições, a indústria não consegue mesmo competir: "Os bens manufaturados já apresentaram, em 2014, déficit da ordem de US$ 111 bilhões na balança comercial, o que representa algo próximo a 2,2% do PIB".

Mas tudo isso é consequência e não causa da deterioração da economia. O conserto, neste momento, é o ajuste das contas públicas. E, no entanto, as mesmas centrais sindicais que assinam esse documento são contra o ajuste proposto pelo governo.

A prioridade é recuperar os fundamentos da economia e a confiança e não providenciar terapia especial apenas para um setor. O presidente da Fiesp disse, também com razão, que a indústria quer isonomia, ou seja, quer condições equivalentes às dos concorrentes do exterior.

Quando as contas públicas se deterioram como se deterioraram, quando o rombo nas contas externas avança para além dos 5% do PIB e quando a inflação salta para além dos 8% ao ano, não é possível ter isonomia com a indústria do exterior. A recuperação da isonomia exige a recuperação de toda a economia.

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CONFIRA:

 Foto: Estadão

Aí está a evolução da produção de veículos nos últimos 12 meses.

Ano ruim O salto da produção de 22,9% em março sobre a de fevereiro é apenas aparentemente um sinal positivo. A comparação com fevereiro está prejudicada pela existência de cinco dias úteis a mais. O número mais relevante divulgado nesta terça-feira pela Anfavea, a instituição que cuida dos interesses do setor, é o das projeções para todo o ano de 2015. A produção deverá ser de 2,8 milhões de veículos, queda de 10% sobre 2014. E as vendas, de 3,0 milhões, recuo de 13,2%.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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