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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|De olho no câmbio

O empresário se pergunta se é melhor antecipar remessas de moeda estrangeira ou liquidar uma dívida no exterior; o exportador desconfia de que é preciso segurar ao máximo seus dólares lá fora para receber mais reais dentro de alguns meses; as pessoas físicas consultam os administradores de patrimônio se não seria melhor comprar cotas de fundos de investimento lastreados em evolução cambial para defender sua carteira.

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Atualização:

Essa gente ou já está apostando ou pode fazer suas apostas em mais forte desvalorização cambial (alta do dólar) nos próximos meses. Essas previsões podem dar errado, uma vez que o mercado financeiro está sempre sujeito a muitas influências, cada uma puxando para um lado, como um gigantesco cabo de guerra.

 Foto: Estadão

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Feita a ressalva, parece razoável admitir que as forças que atuam pela desvalorização do real diante do dólar estão cada vez mais fortes e tendem nesse rumo.

O primeiro desses fatores é a proximidade da reversão da política monetária (tapering) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). À medida que a torneira for sendo fechada, menos dólares fluirão para o mercado e mais o dólar tende a se valorizar diante das outras moedas. Cada vez que se acumulam evidências sobre o início desse processo, o mercado financeiro global entra em convulsão que envolve todos os ativos e não só as moedas.

Uma das indicações de que o início do novo jogo pode acontecer a partir de fevereiro é a troca da presidência do Fed: sai Ben Bernanke, entra Janet Ellen.

O segundo fator que empurra empresas e pessoas mais para o lado do dólar do que para as aplicações em reais é a rápida deterioração das contas externas no Brasil. O rombo em conta corrente (fluxo de mercadorias, serviços e transferências) era de apenas US$ 54,2 bilhões (2,4% do PIB) no final de 2012 e saltará no fim deste ano para perto dos US$ 80,5 bilhões (3,6% do PIB). A entrada de capitais já não cobre a diferença e a necessidade de mais dólares para pagar as contas está crescendo.

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Há outra fonte de incertezas com propensão para empinar o dólar no câmbio interno. São as tensões eleitorais que se aproximam e a possibilidade de que um ajuste rigoroso fique inevitável a partir de 2015, com toda a ração de incertezas que advêm dele. É provável que entre as providências de ajuste esteja certa desvalorização do real, de modo a dar mais competitividade ao setor produtivo.

Claro, neste cenário há outras forças que puxam em direção contrária. Há, por exemplo, o Banco Central cuja atuação poderá segurar o câmbio, se não por outra razão, pelo menos para evitar mais inflação. E para ganhar o apoio de segmentos formadores de opinião, os candidatos à Presidência da República poderão comprometer-se com políticas econômicas mais austeras e mais confiáveis, como ocorreu em 2002, com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Previsões, quaisquer que sejam, estão sujeitas a erro. Difícil antecipar com precisão qual é a resultante desse jogo de forças opostas e em que períodos se acentuará. Mas o mercado financeiro é feito de apostas. Quem está se defendendo agora em dólares aposta na alta.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Estas são as projeções, por região, da Agência Internacional de Energia da produção de petróleo no mundo. O Brasil comparece com posição destacada, graças ao pré-sal.

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Questão de opção. Enquanto o mundo começa a tomar conhecimento das enormes possibilidades de produção de petróleo e gás no Brasil, o brasileiro ainda não sabe o que quer. Se quer ser autossuficiente em hidrocarbonetos ou se tornar grande exportador enquanto durar a era do petróleo. Dessa decisão dependerá a velocidade da exploração e dos investimentos necessários para isso.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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