Matéria publicada nesta segunda-feira pelo jornal Valor Econômico informa que o Banco Central já conta com uma "sobra" de US$ 20 bilhões no mercado interno de câmbio ao longo deste ano. Ou seja, computadas entradas e saídas de moeda estrangeira, a expectativa é a de que haverá predominância da ponta vendedora.
A novidade está em que isso aconteça em ano de enorme crise econômica e política. Fossem outros os tempos, não precisaríamos ter incertezas dessas proporções para ter uma corrida ao dólar. Se não há fuga de moeda estrangeira é porque as reservas de US$ 370 bilhões estão desempenhando papel importantíssimo de garantir certa estabilidade nessa área.
É preciso acrescentar que há uma nunca vista abundância de dólares no mercado internacional em consequência da atuação dos grandes bancos centrais, que despejaram ou continuam a despejar moeda como política destinada a enfrentar a crise.
A "sobra" de US$ 20 bilhões, que pode ser até maior do que isso, é o resultado da forte derrubada do déficit em conta corrente, conta que registra entradas e saídas de moeda estrangeira no comércio exterior de mercadorias e serviços mais transferências (menos fluxo de capitais). E ainda haverá o afluxo de investimentos estrangeiros, estimado em US$ 55 bilhões.
Só não dá para afirmar que essa situação acabará por produzir uma inexorável valorização do real porque há a atuação do Banco Central. No momento, há um estoque de compromissos de venda de dólares no mercado futuro (operações de swap cambial) pelo Banco Central de aproximadamente US$ 100 bilhões.
Esse estoque foi produzido em 2014 e 2015, quando prevaleceu o mercado fortemente comprador de moeda estrangeira, em consequência da perspectiva de crise econômica e política. Bastaria que o Banco Central recomprasse parte dessas posições vendidas - o que já começou a fazer - para que produzisse efeito inverso ou para que neutralizasse essa pressão vendedora de moeda estrangeira.