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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|E agora, ministro?

Diante do PIB decepcionante do primeiro trimestre e da perspectiva de desilusões mais ou menos equivalentes nos próximos, o governo Dilma não vai ficar como está.

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Atualização:

São duas opções: ou faz mais do mesmo ou muda tudo. Ambas incluem riscos e poucos resultados imediatos, pelo menos até as vésperas das eleições presidenciais de 2014.

Mantega. Mais do mesmo? (FOTO: Fernando Bizerra Jr/EFE)  Foto: Estadão

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Na entrevista que deu logo após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou que há mudanças em curso. Em vez de turbinar o consumo, como fez até recentemente, a ênfase da política econômica vai para o investimento.

É um reconhecimento, ainda que tardio, de que a política econômica partira do diagnóstico errado, de que o problema era o baixo consumo. A estratégia até então determinava que, uma vez estimulado o consumo, a produção (e o investimento) iria atrás, como cachorro de mendigo.

A conversão do governo ainda não convenceu. A ideia de que o investimento ficara em segundo plano até aqui não combina com a louvação oficial ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É bom lembrar que a então candidata Dilma Rousseff foi apresentada ao eleitorado como "mãe do PAC", num clima em que o investimento já fora escolhido como alavanca do desenvolvimento econômico. De todo modo, vai sendo reconhecido que o PAC é pouco.

Dos 18% da renda aplicados hoje em investimento, o governo detém fatia pouco superior a 1 ponto porcentual. O resto sai do setor privado. No entanto, o empresário não vem se deixando seduzir pelas convocações da presidente para liberar seu espírito animal. Ele não sente firmeza na condução da economia.

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Uma opção do tipo mais do mesmo consistiria em aprofundar o regime de altas despesas públicas destinadas a transferências de renda para determinados segmentos da população, apresentada sempre como política anticíclica, embora na prática produza mais distorções do que soluções. Continuaria, também, a propiciar reajustes salariais acima da produtividade do trabalho e as tais desonerações que custam caro e não passam de paliativo. É a receita que, na atual conjuntura nacional e internacional, conduz à repetição de pibinhos, de inflação em alta e de aumento do rombo das contas externas. Em compensação, enquanto mantiver a ilusão populista, é a política que, em princípio, garante votos.

A opção por mudança de rumos consistiria em reduzir substancialmente as despesas públicas para que o governo pudesse garantir vigoroso superávit primário (sobra da arrecadação para pagamento da dívida). O fator abriria espaço para a redução dos juros, o que todos querem, e para o barateamento do crédito. De quebra, permitiria maior desvalorização do real (alta do dólar) para fortalecimento da indústria - sem produzir a inflação que alimenta a desconfiança e a retração do setor privado. É claro, esse conjunto de políticas exigiria adiamento da instalação do Estado do bem-estar social, com o qual a sociedade parece contar.

Embora em algumas ocasiões diga o contrário, o governo parece mais disposto a seguir a primeira opção, para só aplicar a terapia de choque em um possível segundo mandato de Dilma. O maior risco é de que as condições da economia se deteriorem muito rapidamente e a reputação política da presidente chegue às vésperas das eleições com sérias avarias.

CONFIRA:

Bancos a perigo. Na última quarta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) advertiu que aumentou o risco de quebra de bancos importantes na zona do euro. Não disse quais são, mas apontou para países com alto desemprego e queda forte dos preços dos imóveis. Qualquer um sabe que Espanha, Itália, Portugal e Grécia estão nessa lista.

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Calote? Todos os dias aparece gente importante recomendando calote, ainda que parcial, das dívidas, para que as economias nacionais parem de afundar em juros insuportáveis e ganhem condições de recuperação.

Destruição de patrimônio. O problema é que calotes assim implicam destruição de patrimônio dos bancos. E a quebra de um banco importante pode arruinar os aplicadores que forneceram os capitais usados nos financiamentos que deixarão de ser honrados. Pior que isso, pode causar pânico e corrida aos depósitos de outros bancos, como aconteceu depois da quebra do Lehman Brothers, em 2008.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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