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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|É o pleno emprego

Até agora não se viu nada parecido. O desemprego no País caiu em novembro a níveis recordes. De cada mil brasileiros em atividade econômica em novembro, apenas 57 estavam sem trabalho. É uma situação muito próxima do pleno emprego.

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Atualização:

Em inúmeros setores começa a faltar mão de obra até mesmo não especializada. Domingo, na rede de TV americana CBS, o empresário brasileiro Eike Batista contou que está importando soldadores dos Estados Unidos para trabalhar na montagem de plataformas de petróleo. Esse exemplo dá uma boa ideia do aquecimento do mercado de trabalho por aqui.

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Nesse mundo globalizado carregado de contrastes, essa é uma situação quase paradoxal, que acontece enquanto os países ricos estão mergulhados no desemprego profundo. Na terça-feira o Fed (banco central dos Estados Unidos) lamentava, no comunicado emitido logo após sua reunião destinada à revisão dos juros, que não há nenhuma reação visível no mercado de trabalho americano, onde o desemprego é de 9,8% da força de trabalho. E esse é também o grande problema da área do euro, onde 10,3% da população ativa não encontra colocação. Na Espanha, o desemprego é de 20,7%; na Grécia, de 12,2%; e na França, de 9,8%.

Quinta-feira, o Ministério do Trabalho revelou que foram criados aqui no Brasil 2,5 milhões de empregos com carteira assinada nos primeiros 11 meses deste ano. Como mais de 50% do mercado de trabalho ainda opera na informalidade, é de supor que a contratação de pessoal em outras condições tenha sido ainda maior.

O pleno emprego é um dos principais objetivos da política econômica. Portanto é uma notícia que merece comemoração. Mas, como toda goiaba boa tem bicho dentro, esse fato positivo também apresenta problemas. O primeiro é o de que essa situação foi obtida com excessiva expansão das despesas públicas, que cresceram 15,7%, com o objetivo de facilitar a vitória da candidata oficial à Presidência da República. A gastança produziu renda e salário e, consequentemente, emprego. Portanto, essa expansão do mercado de trabalho tem um componente artificial.

O segundo problema é o aumento de custos. O nível de desemprego que no Brasil pode ser considerado "neutro", ou seja, aquele que não produz inflação, é de cerca de 7%. Abaixo disso, crescem as pressões salariais, especialmente no setor de serviços, e, a partir daí, a inflação tende a avançar. Como em ambiente de escassez de mão de obra o recrutamento tem de alcançar pessoal de baixa qualificação, elevam-se também os gastos com treinamento.

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O aumento da inflação, por sua vez, exige corretivos para que não desestabilize a economia. E aí os juros terão de ser acionados, num momento em que se pretende o contrário, não só para desarmar a atração de capitais especulativos, mas também porque o governo pretende criar mercado de títulos de longo prazo para incentivar os investimentos.

Por falar em investimentos, ainda que o próximo governo trate de desacelerar o crescimento econômico, a simples agenda de novos projetos deverá manter relativamente aquecido o mercado de trabalho. A Petrobrás, por exemplo, está anunciando para os próximos 3 anos a contratação de mais 14 mil funcionários.

CONFIRA

Salva-vidas. Os dirigentes da área do euro decidiram na sexta-feira em Bruxelas institucionalizar o fundo de socorro para países encrencados. Foi um passo decisivo para definir condições para enfrentar as crises de pagamento como os que estão derrubando Grécia, Irlanda e possivelmente Portugal. Mas a novidade, arrancada depois de complicado processo político, não empolgou o mercado financeiro.

Perigo de calote? Teve mais impacto a decisão da Moody's, principal agência de classificação de risco, de rebaixar os títulos de dívida da Irlanda em cinco níveis do seu ranking. Isso significa que esse país vai pagar ainda mais juros para rolar sua dívida.

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Risco de contágio. Mais impacto ainda tiveram as declarações do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que advertiu para o aumento do risco de contágio na área do euro. Ele argumentou que os problemas que afligem a Irlanda não são muito diferentes dos que atacam Espanha e Portugal.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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