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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|E vem mais inflação

Vai piorar, continuará ruim durante alguns meses, mas ainda no próximo ano começará a melhorar. É o principal recado que o Banco Central passou nesta quinta-feira sobre o comportamento da inflação

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Atualização:

Vai piorar, continuará ruim durante alguns meses, mas ainda no próximo ano começará a melhorar. É o principal recado que o Banco Central passou nesta quinta-feira sobre o comportamento da inflação, por meio da Ata do Copom, um dos documentos institucionais de comunicação com a sociedade.

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Se vai ser assim, é outra coisa. O Banco Central tem errado nas suas projeções, seja porque se ateve a avaliações parciais da situação econômica, seja porque pretende parecer mais otimista.

Como o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já vinha avisando, um dos mais importantes fatores da inflação, que continua forte e muito espalhada, é o tal realinhamento dos preços relativos na economia.

Tombini. realinhamento dos preços ( Foto: Dida Sampaio/Estadão)

É tanto o reajuste dos preços internos em relação aos externos, em consequência da alta do dólar em reais, que puxou para cima os preços dos produtos importados e das dívidas em moeda estrangeira, quanto o reajuste dos preços administrados (principalmente energia elétrica e transportes urbanos), que ficaram atrasados em relação aos preços livres.

O Banco Central continua leniente com outra das principais causas da inflação, que é a excessiva expansão das despesas públicas. O texto da Ata mantém a afirmação das edições anteriores de que a política fiscal "tende a se deslocar para a zona de neutralidade". Quer com isso dizer que, dentro de algum tempo, o governo não vai mais produzir inflação porque vai controlar a gastança.

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A autoridade monetária repete esse mantra desde agosto de 2013, quando parou de apontar a política fiscal como um dos principais causadores de inflação, aparentemente depois que o governo avisou que não gostou do diagnóstico. Até agora, ninguém conseguiu conferir o tal efeito do deslocamento para a zona de neutralidade.

Em todo o caso, desta vez, há a promessa da nova equipe de que trabalhará com transparência para recobrar o equilíbrio das contas públicas. E é com esse novo nível de austeridade que o Banco Central está contando para que novos apertos dos juros sejam dados "com parcimônia". A ideia é, portanto, aumentá-los em mais 0,25 ponto porcentual para 12% ao ano e parar por aí, para que o aperto monetário conjugado com o ajuste fiscal possam produzir o resultado esperado.

A afirmação de que "ainda no próximo ano (a inflação) entra em longo período de declínio" por enquanto não passa de aposta. Para que se confirme, é preciso, primeiro, que a equipe econômica consiga sucesso na política fiscal. Este é um objetivo difícil de ser alcançado com a economia quase estagnada, porque, sem crescimento, a arrecadação de impostos fica prejudicada. Em segundo lugar, é preciso que as tarifas de energia elétrica não sejam sobrecarregadas com novos custos. E, em terceiro, que os custos da mão de obra, que continua escassa, parem de subir. (Veja, ainda, o Confira.)

Ao longo dos últimos anos, o Banco Central perdeu parte de sua capacidade de conduzir as expectativas do mercado, tanto porque foi complacente demais com a inflação quanto porque não soube se comunicar com a sociedade. Dentro de mais alguns meses, ficará mais claro se isso mudou.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

Aí está a trajetória dos juros básicos (Selic) desde setembro de 2008.

Vai depender... Está lá na Ata do Copom que a inflação "ainda no próximo ano entra em longo período de declínio". É uma afirmação categórica que, no entanto, está sujeita a um punhado de grandes incertezas. Para isso acontecer, além de superar os fatores adversos apontados no texto acima, será preciso que os desdobramentos judiciais dos problemas de corrupção não descambem para uma crise política e/ou para uma disparada das cotações do dólar no câmbio interno.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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