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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Emprego? Não, obrigado

O desemprego continua em níveis historicamente baixos. Como mostraram nesta quinta-feira os levantamentos do IBGE, em setembro foi de apenas 4,9% da força de trabalho.

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Atualização:

O gráfico abaixo mostra que esta não é uma situação episódica. O baixíssimo nível do desemprego se repete mês após mês e vai confirmando um quadro de pleno-emprego ou de algo muito próximo disso.

 Foto: Estadão

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Este continua sendo um dado surpreendente nessa paisagem de crescimento econômico insignificante por quatro anos consecutivos.

Como já se sabe há meses, o baixo nível de desemprego não acontece por aumento dos postos de trabalho, mas por redução de interessados em procurar ocupação. Os especialistas em Economia do Trabalho vêm queimando massa cerebral para entender por que isso acontece no Brasil. O debate se estende, com balanço de mais hipóteses do que de conclusões.

Não cabe aqui argumentar que o desânimo difundido no mercado de trabalho é responsável pelo desalento e pela desistência da procura de emprego. O IBGE mostra que essa fatia da força de trabalho está diminuindo, e não o contrário.

Parte das explicações talvez esteja no fato de que mais jovens vêm adiando sua entrada no mercado de trabalho, porque têm de estudar e buscar mais qualificação. Isso só teria se tornado viável porque havia quem bancasse esse investimento na carreira profissional.

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Essa é a principal razão por que os estudiosos juntam à argumentação a ponderação de que isso só se tornou possível graças à maior transferência de recursos orçamentários para a população, por meio do programa Bolsa Família.

É possível também que tenha ficado mais fácil e mais remunerador trabalhar pelo menos parcialmente por conta própria. O setor de serviços está em forte expansão. Até mesmo quem tem um emprego em tempo parcial pode estar aproveitando para esticar algumas horas semanais para um reforço no orçamento.

Seria, por exemplo, o caso da empregada doméstica que aceita serviços adicionais de faxina; o do funcionário da companhia telefônica que aproveita suas visitas para se apresentar e executar serviços por fora; o professor que dá aulas particulares; ou o instrutor de academia que atua como personal trainer. São virações hoje facilitadas pelo uso generalizado do telefone celular. Essa gente não está à procura de emprego. Mas pode estar em condições de ajudar no sustento da parentada que, por sua vez, não sente a mesma premência de há alguns anos de procurar atividade remunerada.

Nenhum desses fatores isolados deve ser tomado como explicação cabal e talvez haja outros ainda desconhecidos. É matéria para avaliação de quem se debruça sobre esse mercado.

Níveis baixos de desemprego é situação desejada por qualquer administrador de políticas públicas. Mas não dá para ignorar seus efeitos colaterais ruins quando conjugados com reduzida produtividade da mão de obra. Como o Banco Central vem denunciando em praticamente todos os seus documentos, um mercado de trabalho pressionado, como o de agora, é fator de aumento de custos de produção e, portanto, de inflação.

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CONFIRA:

 Foto: Estadão

Esta foi a evolução da cotação do dólar em reais no câmbio interno ao longo de outubro até ontem.

Salto Mesmo com a forte atuação do Banco Central, que despejou mais de US$ 100 bilhões em leilões de swap (equivalentes à venda de dólares no câmbio futuro), para conter as cotações, o dólar continuou em alta. Nesta quinta-feira, atingiu R$ 2,515 por dólar, o preço mais alto desde o auge da crise, em dezembro de 2008. Reflete a insegurança do mercado em relação ao resultado das eleições de domingo. No fechamento, houve ligeiro recuo para R$ 2,509.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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