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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Esqueçam o que escrevi

O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.

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Atualização:

Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom divulgada nesta quinta-feira mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.

Tombini. Mais sintonia (FOTO: Dida Sampaio/Estadão)  Foto: Estadão

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Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".

Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.

De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.

Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.

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O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.

A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.

Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta (veja ainda o Confira).

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Aí está a variação dos juros básicos (Selic) nos últimos cinco anos.

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Tabu. A repentina mudança de diagnóstico do Banco Central em relação à qualidade e aos efeitos da política fiscal do governo poderá agora reforçar as apostas do mercado financeiro e dos remarcadores de preços de que os juros básicos (Selic) não subirão necessariamente para onde tiveram de subir para segurar a inflação. Mas subirão até um degrau antes dos dois dígitos (10% ao ano). E por que? Porque, afinal, este foi até agora o limite tabu do governo Dilma.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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