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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Esvaziado e sem rumo

O Movimento dos Sem Terra (MST) tem uma história de 30 anos permeada de invasões e atos de violência, mas é a primeira vez que tenta peitar instituições democráticas, como aconteceu nos tumultos praticados quarta-feira nas manifestações em Brasília. Já é, parece, o reflexo de um movimento esvaziado, sem discurso e sem rumo.

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Atualização:

Ao contrário do que muita gente pensa, o MST é um movimento conservador. Nasceu em 1984 como fruto da Pastoral da Terra da Igreja Católica, em cuja órbita continua girando. Na prática, sua função social foi organizar e impor certa disciplina a camadas subempregadas na periferia das grandes cidades, graças a promessas de acesso à terra e práticas de liturgia de "enturmação".

Sob impacto do Bolsa Família (FOTO: Ed Ferreira/Estadão)  Foto: Estadão

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Não faz sentido insistir nas denúncias do latifúndio improdutivo, como faz o MST. A presidente Dilma, cuja base de apoio político é liderada por um partido que sempre defendeu a reforma agrária, acaba de deitar louvação nos resultados da agricultura, que "em duas décadas aumentou em 221% a produção de grãos, com acréscimo da área plantada de apenas 41%". Independentemente da exatidão desses números, este não é o resultado da atuação só de grandes empresas. A agricultura familiar capitalizada e detentora de tecnologias de ponta em preparo da terra, seleção de sementes, plantio, irrigação, colheita, armazenamento e práticas financeiras avançadas, também tem muito a ver com isso.

A tal "produtividade na veia" a que se referiu a presidente Dilma acontece na agropecuária, e não nos assentamentos. Hoje, o setor coloca no mercado quase 200 milhões de toneladas de grãos que, em mais dez anos, deverão ser alguma coisa entre 300 milhões e 400 milhões de toneladas.

Não foi apenas o sucesso do agronegócio que esvaziou o MST. Também os governos do PT trabalharam diretamente para isso, na medida em que promoveram farta distribuição de bolsas família e tiraram impulso das lutas pelo acesso à propriedade de um pedaço de terra e por um posto de trabalho. Ficou comprovado que o desemprego se resolve com crescimento econômico, e não com reforma agrária.

As próprias análises internas do MST reconhecem que o Programa Bolsa Família e o aumento do emprego atrapalharam os planos dos seus dirigentes. Eles agora acusam o governo de traição à causa e de conluio com a bancada ruralista. Parecem incapazes de reconhecer que os projetos de reforma agrária não mais farão parte da agenda de prioridades de nenhum governo, seja qual for sua coloração ideológica.

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Os líderes do MST não têm clareza sobre seu próprio futuro. Como não conseguiram emplacar seus projetos originais de redistribuição de terras, aderiram a um ambientalismo confuso e, em nome dele, se puseram a destruir plantações de laranja, de eucalipto, de cana-de-açúcar e de canteiros de pesquisas agronômicas, sob a argumentação de que toda cultura extensiva, especialmente a obtida a partir de sementes geneticamente modificadas, envenena as pessoas e o meio ambiente e destrói a agricultura tradicional.

Em todo o caso, mesmo em decadência e sem perspectivas, o MST ainda tenta invadir o Palácio do Planalto e consegue suspender uma sessão do Supremo, como aconteceu quarta-feira.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

O gráfico mostra a evolução do comércio varejista restrito (que não inclui vendas de veículos e de materiais de construção).

Consumo enfraquecido. Os números de dezembro mostraram fraqueza e desaceleração no consumo. É o que tende a definir mais um avanço trimestral insatisfatório do PIB. Os resultados do PIB do último trimestre de 2013 devem ser divulgados dia 27. Se esses números fracos forem confirmados, a força de arrasto (inércia) para os dois primeiros trimestres de 2014 será também de fraqueza.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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