Pastoriza entende que os dois setores só estão dando certo porque recebem incentivos do governo federal que outros não têm.
É o caso do agronegócio, argumenta ele. "O volume de recursos para o financiamento rural, no plano safra 2014/2015, é da ordem de R$ 150 bilhões. Os produtores, cooperativas e cerealistas recebem financiamentos para construção de novos silos com juros de 3,5% ao ano e prazo de 15 anos para pagar. O Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural possui taxa de juros de 4,5% ao ano. As cooperativas recebem financiamento para capital de giro e incremento da competitividade do complexo agroindustrial com juros de 6,5% ao ano." E ele cita outros incentivos: "Os programas Mais Alimentos, com juros entre 1% e 2% ao ano (na área Federal), e Pró-trator (esse no Estado de São Paulo), com juros de zero por cento ao ano". A Embrapa, diz Pastoriza, é outra explicação para o sucesso do agronegócio.
Para os bons resultados da Embraer, Pastoriza dá duas explicações. A primeira é a disponibilidade de financiamento do BNDES, de até 30 anos, para a venda de aeronaves. A outra é o recurso a importações de componentes, com isenção do Imposto de Importação, quando as aeronaves se destinam ao mercado externo.
E ele arremata: "Enquanto isso, em realidade totalmente adversa, a indústria nacional de transformação, que agrega valor e gera desenvolvimento tecnológico, é obrigada a conviver com o 'tripé do mal' (câmbio, tributos e juros) - custo Brasil que torna os produtos brasileiros cerca de 40% mais caros que os produzidos na Alemanha e Estados Unidos, câmbio desfavorável ao processo produtivo, alto custo do crédito e escassez em linhas de financiamentos de longo prazo, combinação perniciosa que tira toda a competitividade da indústria."
Sem pretender polemizar, é preciso pontuar que os avanços do agronegócio estão longe de se explicar apenas pelos fatores expostos por Pastoriza. Fica parecendo que a agricultura é regada a subsídios. Se fosse, o setor já teria sido alvo de denúncias por práticas desleais de comércio exterior na Organização Mundial do Comércio (OMC).
No mais, não é só a Embraer que está isenta de Imposto de Importação na entrada de insumos e componentes para produtos depois exportados. Qualquer empresa está capacitada a usar os benefícios do regime de draw back. Se garantia de sucesso é ter acesso a linhas do BNDES para a venda de seus produtos, então o setor de bens de capital é o mais beneficiado de todos. Só em 2013, R$ 70 bilhões de recursos do BNDES (pelo Finame) financiaram a compra de máquinas e equipamentos.
A tabela mostra como se distribuíram por setor os US$ 27,9 bilhões em Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no primeiro semestre do ano.
TERREMOTO
Se alguma coisa nova não acontecer, a Argentina entrará em default técnico nesta quarta-feira, data-limite para que cumpra determinação da Justiça dos Estados Unidos de pagar os credores que não aceitaram os termos da renegociação das dívidas. O governo de Cristina Kirchner parece contar com uma improvável comoção internacional a favor da Argentina.