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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Falta convencer

O Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, seguirá enfrentando dificuldades para convencer os "fazedores de preços" de que a inflação ficará sob controle, a ponto de convergir para a meta de 4,5% ao longo de 2012.

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Como ficou claro na ata da última reunião do Copom, as apostas do Banco Central se concentram no que ele entende como consequências desinflacionárias da forte deterioração econômica dos países ricos - que prefere chamar de "economias maduras".

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É o que está no Relatório de Inflação de setembro, divulgado nesta quinta-feira. Uma peça, desta vez de 145 páginas, que se propõe a examinar todos os fatores que, direta ou indiretamente, agem sobre os preços internos.

A piora da crise externa tem, de fato, probabilidade de produzir baixo crescimento nos países avançados. Esse, por sua vez, é um fator que deve manter achatada a demanda mundial de matérias-primas, energia e alimentos.

Em consequência, os preços dos produtos industrializados em escala global tendem a se manter estáveis ou em queda; as encomendas dos países industrializados ao exterior, provavelmente, se retrairão; e o resultado básico é de uma inflação internacional muito baixa ou em retração. Assim, resumidamente, a aposta do Banco Central é de que o colapso externo sobre a inflação externa agirá como freio na alta dos preços internos.

Embora não ignore o risco de aprofundamento da crise de confiança, o Relatório de Inflação não leva em conta que essa mesma situação também pode provocar uma fuga de capitais, portanto, uma disparada das cotações da moeda estrangeira no câmbio interno - como a das últimas três semanas. Não está considerada a possibilidade de que a desvalorização do real (alta da cotação do dólar) encareça os produtos importados e, na contramão do sugerido, produza mais inflação interna.

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Mas há outros elementos a avaliar. O Banco Central reconhece que o avanço do consumo interno está mais rápido que o da capacidade de oferta do sistema produtivo - o que atua contra o controle da inflação. E admite que o mercado de trabalho segue excessivamente aquecido; que os salários vêm sendo reajustados bem acima dos ganhos de produtividade interna; e que o grande crescimento da massa salarial também pressiona os preços. Mas, por outro lado, vê "sinais de moderação" e reforça a crença na convergência da inflação para a meta, conclusão pouco condizente com as premissas assumidas.

Em outro item, parece haver um engano: o atual avanço do crédito, 19,4% ao ano, continua acima do planejado, 15%. Mas, fora do Relatório, o Banco Central aponta para uma expansão de 17% em 12 meses, o que não deixa de ser mais um estimulador excessivo do consumo.

Isto posto, o que esperar dos juros? Surpreendentemente, o Banco Central avisa que ninguém deve contar com uma farta safra de cortes, como transpareceu na última Ata do Copom. Ao contrário, fala em "ajustes moderados, consistentes com a meta de inflação de 2012".

Aposta é aposta. E o Banco Central pode até acabar acertando em suas avaliações. No entanto, a incompatibilidade entre o que enxerga e seus desdobramentos sobre os preços não o ajuda a recuperar a condução das expectativas.

Até agora, o Banco Central foi obrigado a rever para cima todas as suas projeções oficiais de inflação de 2011. Se esteve equivocado até agora, o que garante que vá acertar em 2012?

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Mais magro. O Relatório de Inflação reviu para baixo a evolução do PIB neste ano, de 4,0% para 3,5%. E, sem citar números, espera que a paradeira externa trabalhe como um breque também na atividade interna em 2012. No entanto, o Ministério do Planejamento continua cravando avanço do PIB de 4,5% em 2011 e de 5,0% no próximo ano.

É, mas pode não ser. A aposta básica do Banco Central é a de que os preços das commodities passarão a ser contidos pela crise externa, que tenderia a derrubar a demanda. Mas o Banco Central não exclui outra hipótese, a de os grandes bancos centrais optarem por uma "nova rodada de ações monetárias não convencionais" (afrouxamento quantitativo), as quais foram vistas como elemento de apoio para a escalada dos preços das commodities.

A outra aposta. Embora 2012 seja ano eleitoral - historicamente mais propício a gastanças -, o Banco Central aposta no respeito ao superávit primário e na convergência da inflação para meta.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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