Mantega também avisou que vai continuar combatendo o que entende por excessiva valorização do real, produzida, segundo ele, pela forte entrada desses recursos, por meio de recompra de moeda estrangeira pelo Banco Central do Brasil e por meio de taxação (IOF) na entrada de capitais.
São duas as observações que se podem fazer a partir dessas reiteradas manifestações do ministro Mantega. A primeira delas é que é descabido condenar os grandes bancos centrais. Eles apenas estão tentando tirar suas economias do brejo em que se encontram. E chegaram à conclusão de que é melhor correr mais riscos, mas fazer alguma coisa para reativar o crédito e a atividade econômica, do que não fazer nada e ver a paradeira afundando as grandes economias e as emergentes.
O mundo inteiro (menos a Alemanha e o ministro Guido Mantega) está aplaudindo a atuação corajosa dos grandes bancos centrais, porque entende que o problema maior é a estagnação global e não determinados efeitos colaterais que possam vir a derrubar a competitividade das economias emergentes, sobretudo a do Brasil.
Às vezes, Mantega alega que essas operações gigantescas de emissão de moeda não servem para nada, porque não seriam capazes de reativar a economia. Mas este é um ponto de vista discutível. O próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, vem dizendo o contrário. Ele argumenta que os resultados podem até não ser visíveis. No entanto, o que precisa ser avaliado, diz ele, é o tamanho do buraco em que estaria a economia americana se essas decisões não tivessem sido tomadas.
Isso não quer dizer que o governo brasileiro tenha de ficar parado e que não deva defender a economia de eventuais avalanches de moeda estrangeira sobre o câmbio interno - e essa é a outra observação a ser feita.
Por enquanto não há evidências de que a terceira rodada de afrouxamento quantitativo (quantitative easing[) do Fed esteja provocando novo tsunami de moeda estrangeira no câmbio interno. Mas, se isso acontecer, que venham as defesas do governo brasileiro, desde que ajudem.
Esse debate não tem a ver com o que se trava a respeito dos grandes desalinhamentos cambiais que preexistem à crise - embora estejam sendo agravados pelas políticas expansionistas dos grandes bancos centrais. Esses descompassos pulverizaram as estruturas tarifárias (Imposto de Importação) destinadas a defender os produtos nacionais contra a ação predatória dos importados. E é por isso, também, que as disputas sobre o protecionismo tarifário perderam boa parte de sua base de referência.
Mas este é o mundo desordenado de hoje que esta crise tende a agravar.
CONFIRA
O índice de analfabetismo da população com 15 anos ou mais, no Brasil, caiu de 9,7%, em 2009, para 8,6%, em 2011, apontou nesta sexta-feira a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, feita pelo IBGE.
Inflação em dólares. O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola advertiu nesta sexta para o potencial de inflação no Brasil gerado pela política de expansão da moeda nos Estados Unidos. Uma das mais importantes fontes de pressão inflacionária pode provir da alta das matérias-primas (commodities), todas cotadas em dólares.