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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Mais um míssil no petróleo

Dia 30, enquanto o resto do mundo preparava-se para o réveillon, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos avisou que começaria a autorizar exportações de petróleo bruto, atividade que se manteve rigorosamente proibida por mais de 40 anos

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Atualização:

Dia 30, enquanto o resto do mundo preparava-se para o réveillon, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos soltou um míssil sobre os mercados. Avisou que começaria a autorizar exportações de petróleo bruto, atividade que se manteve rigorosamente proibida por mais de 40 anos, a partir da Guerra do Yom Kippur (1973).

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Isso empurra os Estados Unidos para a condição de fornecedores de petróleo no mercado global, com enormes repercussões geopolíticas e estratégicas, como já foi avaliado por esta Coluna no dia 23 de dezembro.

Os analistas do setor entendem que, até o fim de 2015, os Estados Unidos estarão exportando 1 milhão de barris de petróleo por dia. Esse volume corresponde hoje à metade da produção do Brasil.

 Foto: Estadão

No dia 27 de novembro, em reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Arábia Saudita se recusou a reduzir em exato 1 milhão de barris sua oferta no mercado global, decisão que derrubou de US$ 100 para US$ 60 as cotações do barril de petróleo. Isso significa que, de lá para cá, além de se manter no nível dos 30 milhões de barris diários a fatia da Opep, a oferta internacional de petróleo passará a contar com mais 1 milhão de barris diários (pouco mais de 1% do consumo mundial) fornecidos pelos Estados Unidos.

Por enquanto, a autorização atém-se ao petróleo ultraleve, que leva algum processamento nas refinarias. Esse produto é basicamente resultado das operações de exploração do xisto.

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A reabertura das exportações vinha sendo reivindicada pelos produtores para os quais o mercado interno dos Estados Unidos já se tornara estreito e, portanto, fator de inibição de negócios.

Independentemente do interesse imediato das companhias do setor, a decisão do governo dos Estados Unidos demonstra que a derrubada de preços do petróleo atende a seus objetivos econômicos e geopolíticos. O principal objetivo econômico é acelerar a recuperação, graças à energia e aos combustíveis bem mais baratos. Se gasta menos em gasolina, o consumidor conta com mais recursos para outras despesas.

Isso não é tudo. Quando se recusou a reduzir em 1 milhão de barris diários sua produção de quase 10 milhões de barris diários, o objetivo da Arábia Saudita foi alijar do mercado os produtores que operam a custos mais altos, entre os quais os de óleo e gás de xisto. Por conta disso, grande número de analistas advertiu que muitos quebrariam. A decisão do Departamento de Comércio beneficia os produtores de óleo de xisto. Eles agora podem obter preço melhor no mercado internacional do que dentro dos Estados Unidos. Ficou claro, também, que o governo Obama está disposto a dar suporte às empresas que poderiam enfrentar dificuldades.

E aí entra a questão geopolítica. Os principais perdedores da decisão da Opep foram três grandes produtores mundiais cujos governos são adversários dos Estados Unidos: Rússia, Irã e Venezuela. A iniciativa do governo americano tende a agravar a situação econômica dessas três potências e desafia a Opep, mais particularmente a Arábia Saudita, a manter a atual política.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

O gráfico mostra como foi a evolução da grande decepção da Bolsa brasileira: as ações da Petrobrás. Seus preços caíram 36% em 2014, 32,5% apenas a partir de novembro.

Xeques e xisto A edição de 6 de dezembro da revista inglesa 'The Economist' trouxe matéria de capa em que analisou a nova economia do petróleo como um megaduelo entre xeques e xisto (sheikhs v shale). Depois da decisão tomada dia 30 pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, é difícil de ignorar a importância desse ângulo para a avaliação do tema.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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