Celso Ming
06 de fevereiro de 2015 | 21h00
A presidente Dilma perdeu mais uma oportunidade para dar uma virada decisiva em outra área de administração desastrada.
A indicação do atual presidente do Banco do Brasil (BB), Aldemir Bendine, para a presidência da Petrobrás, não junta credibilidade inicial suficiente para garantir rápida reversão da má situação da empresa.
A ficha corrida de Bendine não indica que a nova administração da estatal se guiará por decisões técnicas, como se espera, num cenário de enormes mudanças no mercado do petróleo. Se repetir o que foram os quase seis anos de direção do Banco do Brasil, as ingerências puramente políticas podem predominar também na Petrobrás.
Desde 2009, Bendine mais que dobrou os ativos do BB para R$ 1,4 trilhão e essa é uma das condecorações que ostenta em seu curriculum. Mas notabilizou-se, também, por estar sempre disposto a repetir “sim, senhora”. Expandiu fortemente o crédito e derrubou artificialmente os juros, na contramão do que indicava a política monetária e do que se esperava de um operador de um banco, apenas para atender à política supostamente anticíclica de expansão da demanda.
O perfil de Bendine também não é a toda prova e contraprova. Envolveu-se em questões polêmicas, como as disputas com Ricardo Flores, então presidente do Fundo de Pensão do Banco do Brasil. Também foi questionado pelo repasse do Banco do Brasil, de R$ 2,7 milhões, à socialite Val Marchiori. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM, o xerife do mercado de ações) aplicou-lhe multa por infração da lei do silêncio por ocasião da abertura de capital da BB Seguridade. E enfrentou acusação da Receita Federal por aumento de patrimônio pessoal não compatível com sua renda. Se fez o suficiente para ser honesto, não o fez para também parecer, como se espera da mulher de César e de importante administrador de empresa pública.
Depois de tudo o que aconteceu, depois do que já se sabe e do que ainda pode ser revelado pela Operação Lava Jato, esperava-se à frente da Petrobrás um nome de grande ascendência técnica e moral. Bendine terá agora de mostrar que não é o que pensam dele.
Este é um fator que tira densidade da nova administração da empresa – apesar da boa reputação que cerca o novo diretor Financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, até agora vice-presidente de Gestão Financeira também do Banco do Brasil.
O que mais preocupa não é esse aparente mau recomeço, mas certas indicações de que a presidente Dilma não parece ter avaliado adequadamente a gravidade da hora. As condições da economia e, mais do que isso, a erosão de suas bases políticas estão em franca deterioração. Além disso, sua atuação diante da crise da Petrobrás e suas últimas escolhas passam a impressão de que não está levando em conta o aumento do risco de que a mais provável perda do grau de investimento da dívida da Petrobrás produza sucção suficiente para provocar o mesmo rebaixamento na dívida brasileira.
E, se for verdade que a presidente Dilma não conseguiu opção melhor do que Bendine, então cabe perguntar o quanto terá ficado sozinha à frente da administração deste Brasil S.A.
CONFIRA:
O gráfico mostra a trajetória mensal da inflação medida pelo IPCA.
Tarifaço
Como os desastres de avião, o estouro de janeiro (inflação de 1,24%) não tem uma causa única. Mas o fator imediato mais relevante é o que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chamou de “realismo tarifário”, especialmente da energia elétrica. Há uma semana, a Ata do Copom revelava que o Banco Central vinha trabalhando com reajuste das tarifas de energia de 27,6%. O número que agora comparece às projeções oscila em torno dos 40%. (Amanhã tem mais sobre o tema).
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