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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Metamorfoses da crise

A presidente Dilma assumiu seu segundo mandato num ambiente econômico cambiante e hostil não só dentro do País, como também fora dele

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Atualização:

A presidente Dilma assumiu seu segundo mandato num ambiente econômico cambiante e hostil não só dentro do País, como também fora dele.

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Do ponto de vista meramente técnico, a resposta econômica é conhecida. É preciso reforçar os fundamentos para garantir a confiança e, com ela, o crescimento econômico sustentável. Falta saber até que ponto contará com respaldo político, num quadro deteriorado pela existência de 32 partidos e de um Congresso pouco disposto a colaborar.

A crise da economia global começou em 2007/08 como um naufrágio financeiro deflagrado pelo colapso do mercado imobiliário dos Estados Unidos. Em setembro de 2008, com a quebra do banco Lehman Brothers, foi acentuada pelo pânico e ondas de turbulência. Hoje, toma a forma de paradeira da atividade econômica e de produção superior à capacidade de consumo.

De toda parte provêm notícias de encalhes de matérias-primas, de mercadorias e de serviços. O ajuste está agora concentrado na queda persistente de preços. As cotações das commodities estão despencando, a começar pelas do petróleo. Sexta-feira, o tipo Brent, negociado em Londres, atingiu a mais baixa cotação em mais de cinco anos.

Montanhas de minério de ferro nos terminais portuários e de produtos acabados nas laminadoras da China mostram que a demanda ficou curta demais em relação à oferta.

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Os jornais internacionais vêm mostrando que, na China, enormes mercados atacadistas de produtos manufaturados estão abarrotados de estoques de mercadorias. Em quase todos os países produtores, e não só no Brasil, os pátios das montadoras estão superlotados.

Os Estados nacionais têm hoje capacidade limitada para intervir. Os tesouros enfrentam aumentos de despesas, porque têm de pagar mais seguro-desemprego, mais seguro-saúde e mais juros com dívidas mais altas, e quebras de arrecadação puxadas pelo mergulho da produção, das vendas e dos preços.

Os Estados Unidos, a China, o Japão e a Europa passam ainda por pressões deflacionárias, que ameaçam se agravar com o mergulho dos preços dos combustíveis. A deflação é contagiante. Se passou a ter dificuldade de vender, o fabricante chinês derruba os preços dos seus produtos exportados que, por sua vez, farão concorrência agressiva ao redor do mundo. Do ponto de vista da oferta, a análise é apenas parcial. A crise vem agindo também sobre a ponta da procura. À medida que a recessão vai paralisando as economias e o desemprego aumenta, a demanda também se retrai.

Esse quadro derruba os investimentos. Qual a mineradora, a indústria ou a companhia de energia que se dispõe a expandir sua capacidade de produção se, com um pouco mais de espera, pode comprar ativos de empresas que inevitavelmente sairão do mercado? A queda dos investimentos, por sua vez, tende a atingir os produtores de bens de capital (máquinas e equipamentos) e, também, a derrubar-lhes os preços, como já vem acontecendo.

E carrega risco de provocar crise financeira, na medida em que mais calotes nos bancos, gerados por incapacidade de pagamento, elevam o risco de que certas instituições financeiras não honrem seus compromissos. Há quatro semanas, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, advertiu para esse perigo.

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O contraponto positivo a esse quadro carregado são sinais de recuperação da maior economia do mundo, os Estados Unidos. Mas as incertezas prevalecem.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

O IBGE concluiu que, em 2014, a produção de grãos atingiu 192,8 milhões de toneladas, 2,4% maior do que a de 2013. Embora tenha atingido as plantações, a estiagem não provocou queda de produção. O problema foi a baixa na renda do produtor em consequência da redução dos preços. As cotações da soja, por exemplo, caíram 20,5% ao longo de 2014 e foram apenas parcialmente compensadas pela alta do dólar.

2015 A projeção das safras de 2015 apontam para 202,9 milhões de toneladas, 5,2% maior do que a de 2014.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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