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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Mudar o paradigma?

Sempre que acontece um desastre como o de Fukushima, brotam em todo o mundo advertências de que os recursos do planeta Terra são finitos e que é preciso mudar drasticamente os padrões de consumo sob pena de colapso da economia mundial.

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Atualização:

Antes mesmo do primeiro grave acidente nuclear, em Three Mile Island, em 1979, nos Estados Unidos, a obra Limites do Crescimento, publicada originalmente em 1972 por Dennis L. Meadows - histórico membro do Clube de Roma (fundado em 1968 pelo italiano Aurelio Peccei) - advertia para o esgotamento iminente do suprimento das matérias-primas e das fontes de energia. Não foi iminente, ainda não houve esgotamento e talvez nem haja. De lá para cá, muita coisa adiou esse apocalipse. Mais reservas foram encontradas, materiais escassos foram substituídos e a reciclagem cumpre o seu papel.

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Em todo o caso, a advertência não foi esquecida. Como também não consegue ser inteiramente arquivada outra advertência, a do biólogo americano Edward Osborne Wilson, feita no início deste século: "Precisaríamos de mais quatro planetas Terra se for para sustentar toda a população do mundo aos padrões de consumo dos Estados Unidos". Esses e outros são os alarmes que ressurgem de tempos em tempos, quando algo sério acontece e chama à atenção para a finitude dos recursos dispostos ao predador humano.

Desde a Revolução Industrial do século 18, o consumo de energia no mundo passou a ser intensivo e vai crescendo a uma proporção superior a 2% ao ano.

Apesar da pregação intensa dos conservacionistas, a economia global não quer saber de mudanças de paradigma nos atuais padrões de consumo e, tampouco, de energia. Todos querem mais acesso à renda e à riqueza. Os dirigentes do mundo não falam em outra coisa senão em crescimento econômico e de emprego.

Até mesmo as lideranças das antigas esquerdas insistem em que mais gente tem de ser resgatada do submundo da pobreza e da exclusão. E isso, em princípio, requer mais e mais energia. Seria preciso que algo de muito grave acontecesse para que o mundo se dispusesse a viver em condições mais sustentáveis.

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De todo modo, a partir desse acidente, cuja gravidade e desdobramentos ainda não são conhecidos, é de esperar agora que muita coisa mude.

Como os especialistas já vêm afirmando nas primeiras análises depois do que começou a acontecer em Fukushima, as atuais plantas nucleares em operação no mundo terão de ser revistas e novos projetos serão reforçados. Está ficando claro, também, que não vai dar para substituir na velocidade esperada a produção de energia elétrica por queima de fontes fósseis (petróleo, carvão e gás natural), hoje responsável por 71% da matriz energética global. No mínimo, a energia ficará crescentemente mais cara. No início de março, o ministro para o Desenvolvimento Internacional da Inglaterra, Alan Duncan, antevia o petróleo a US$ 200 por barril apenas com o agravamento da crise da comunidade islâmica. Se estiver certo, a economia mundial terá também de enfrentar um novo surto de inflação.

Outro projeto global que pode ficar ameaçado é o do carro elétrico. De que adiantará eliminar a produção de gases poluentes pelo escapamento dos carros se a produção de energia elétrica a ser consumida nos motores emitir os mesmos gases pelas chaminés das termoelétricas a carvão ou a óleo combustível?

CONFIRA

O gráfico mostra a virada dos preços das commodities acentuada pelo terremoto no Japão e o desastre nas centrais nucleares de Fukushima.

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Só no mês que vem. No Centro-Sul, a safra da cana-de-açúcar só começa em fins de abril. Até lá, é baixa a probabilidade de que os preços do álcool se reduzam naturalmente para o consumidor.

Retificação. O frigorífico Mafrig não recebeu R$ 232 bilhões em financiamentos do BNDES, como saiu na última Coluna. Recebeu R$ 232 milhões.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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