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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Novas escolhas

A agora altamente provável nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento é indicação forte de que a presidente Dilma fez uma opção por um ajuste mais sério e tecnicamente mais confiável da economia

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Atualização:

A agora altamente provável nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Nelson Barbosa para o Ministério do Planejamento é indicação forte de que a presidente Dilma fez uma opção por um ajuste mais sério e tecnicamente mais confiável da economia.

O convite feito anteriormente ao presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, reconhecidamente um crítico da política econômica que prevaleceu ao longo do primeiro mandato Dilma, já mostrava isso.

Levy. Indicação de ajuste ( Foto: PAULO GIANDALIA/ESTADÃO-4/4/2011)

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Mas não está claro até que ponto a presidente está mesmo disposta a aprofundar esse ajuste. Até agora, os sinais eram de que as mudanças pretendidas seriam pouco significativas e que continuaria em vigor a fracassada Nova Matriz Macroeconômica, baseada no aumento da demanda puxado pelo avanço das despesas públicas (política econômica anticíclica) e tudo o que vinha junto: política de puxadinhos; subsídios e benefícios temporários a alguns segmentos da indústria e aos campeões do futuro; desonerações tributárias parciais... Decididamente, se fosse para obter esse mais do mesmo, a presidente Dilma teria optado por gente mais identificada com esse ponto de vista.

Joaquim Levy, formado em Chicago, ex-secretário do Tesouro no governo Lula (período Palocci), ex-secretário do Tesouro do Estado do Rio e hoje administrador de fundos de investimento do Grupo Bradesco, não esconde seu perfil ortodoxo, identificado com uma economia assentada em bases fiscais mais sólidas do que a dos membros da equipe econômica anterior. Além disso, quando ocupou cargos públicos, deu mostras de que sabe o que quer, e que não é de dobrar-se a qualquer ventania.

Nelson Barbosa, ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda neste primeiro mandato Dilma, deixou o cargo porque discordou do que viu. Não parece disposto a assumir suas novas funções se for para seguir pela mesma cartilha pseudokeynesiana.

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Algumas análises enxergam nessa guinada, agora mais provável, a influência do presidente Lula. Vá lá. Mas não é preciso apelar para filigranas políticas para explicar as novas opções. Basta levar em conta que, no passo em que se mantinha até agora, sujeita aos mesmos fatores voluntaristas, a economia vinha se encaminhando para a insustentabilidade.

O rombo nas contas públicas tendia a aumentar; o comércio exterior, a perder força; a indústria, cada vez menos competitiva, a se esvair sem parar. O Brasil não vive mais os bons tempos de disparada dos preços das commodities. A correção das distorções exigirá solidez nos fundamentos da economia num ambiente externo de oxigênio rarefeito.

A experiência mostra que o dia a dia do exercício do poder não é coerente. A consistência da administração econômica impõe conquistas diárias. Isso significa que não basta definir antecipadamente uma estratégia e deixar que tudo siga naturalmente seu curso. Um ajuste de cunho mais ortodoxo também cobrará seu preço.

Mais realismo na administração das contas públicas implicará menos transferências de renda para a sociedade, contenção de despesas, fechamento de rachaduras e, possivelmente, maior carga tributária. E, se 2015 for mesmo um ano de ajuste, ninguém deve contar para já com a recuperação da atividade econômica nem com a mesma situação de pleno-emprego.

CONFIRA:

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Reforço dos fundamentos Se a nova prioridade é reconquistar a confiança, o primeiro passo parece ter sido dado. A presidente Dilma mostrou disposição em mudar a qualidade da política econômica. A queda das cotações do dólar e a forte alta da Bolsa mostram que os mercados entenderam que a proposta é reforçar os fundamentos da economia e não mais distribuir band-aids. Falta saber qual será a profundidade e a duração do ajuste.

Com ou sem tranco? Até agora, a presidente Dilma vinha indicando aversão a trancos. Prefere caminho suave. O problema é que terapias gradualistas prolongam a doença e as distorções da economia. Se é para produzir confiança e resultados mais rápidos, então é melhor ouvir os conselhos de Maquiavel e fazer o mal de uma vez.

Autonomia Falta saber até que ponto o Banco Central terá autonomia para fazer o que tem de fazer. Isso logo se verá a partir de suas análises sobre a situação das contas públicas.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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