Segunda-feira, a agência Bloomberg avisava que cresceu o risco de nova crise global, equivalente ou pior do que a que aconteceu em 2008 com o naufrágio do Lehman Brothers. A capa do último número da revista The Economist pergunta se haverá um novo derretimento (meltdown) da economia global.
Pela primeira vez em mais de cem anos, as autoridades dos Estados Unidos admitem a possibilidade de um calote, ao menos temporário, da dívida americana - se o Congresso não autorizar o aumento do endividamento que hoje é de US$ 14,3 trilhões.
Nos próximos oito dias, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) completa o segundo programa de afrouxamento quantitativo (QE2, na sigla em inglês), que consistiu em despejar mais US$ 600 bilhões nos mercados, mediante a recompra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Apenas para relembrar: o primeiro programa desse tipo, o QE1, aconteceu entre novembro de 2008 e março de 2010 e recomprou US$ 300 bilhões em títulos públicos. As principais consequências dessas decisões estão razoavelmente mapeadas: desvalorização do dólar, puxada para cima dos preços das commodities e o surgimento de novos focos de inflação global. O presidente do Fed, Ben Bernanke, está negando o que alguns analistas apontam como inevitável: o anúncio do QE3.
Além das enormes dificuldades para cobrir o rombo orçamentário da União, a economia americana enfrenta um desemprego de 9,1% ao ano, que não dá sinais de regressão, com a agravante de que nada menos que 45% dos desempregados estão nessa situação há mais de seis meses - o que caracteriza alto grau de desocupação estrutural. Além disso, a atividade econômica dos Estados Unidos segue patinando em torno de um crescimento anual de apenas 2,5%.
Quer isso dizer que o novo afrouxamento quantitativo não foi suficiente para reativar a economia americana? Bernanke adverte que não se pode julgar a eficácia do programa nesses termos. Ele prefere dizer que o QE2 foi desenhado para evitar a recaída na recessão (double dip), o que foi obtido, e não para resolver todos os problemas.
São declarações que não afastam a possibilidade do lançamento de um QE3. Ao contrário, reforçam-na, se o que vier aí for mesmo um novo aprofundamento da crise global - que alguns julgam inevitável.
Do ponto de vista da economia do Brasil, essa superliquidez global foi o principal fator que provocou o enorme desembarque de moeda estrangeira, cujo maior efeito foi a valorização do real (queda do dólar) e a perda de competitividade do setor produtivo brasileiro. E foi o que levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a denunciar a deflagração de uma "guerra cambial". Se vier um QE3, num ambiente de clara melhora da percepção global sobre a consistência da economia, o afluxo de dólares para o País será ainda mais intenso.
CONFIRA
Tombo. Aumentam os indícios de que a inflação vai sendo dominada. O avanço do IPCA-15 de junho já é menos da metade do registrado no mês anterior: 0,23% contra 0,70%. E a segunda prévia do IGP-M ficou negativa (-0,21%) no período de 30 dias terminado em 15 de junho.
Ainda falta. Mas não dá ainda para contar com a vitória. O mercado de trabalho e o crédito continuam aquecidos. A inflação dos serviços segue elevada. E a queda dos preços dos combustíveis já deu o que tinha de dar.