Também ficou claro que uma das saídas "naturais" da indústria nacional para enfrentar essa puxada dos custos foi recorrer a importações de insumos, matérias-primas, peças, componentes e conjuntos. (O gráfico mostra em que proporções isso aconteceu nos últimos quatro anos em toda a economia brasileira, não só na indústria. Veja, ainda, o Confira.)
Tanto a avaliação da elevação de custos como a do crescente recurso às importações pela indústria variam de estudo para estudo, de consultoria para consultoria - divergência que deve ser considerada normal diante de um processo que está longe do fim.
De todo modo, já dá para verificar que, a partir do momento em que passou a importar a preços mais baixos do que tinha de pagar pelo produzido no mercado interno, a indústria passou a economizar mais em energia elétrica, logística, salários, instalações, capital de giro e, até mesmo, em impostos - apesar da elevação da carga tributária.
Quando atribuíram esse movimento de redução de custos à manobra destinada unicamente a tirar proveito do "câmbio fora do lugar", tanto governo como dirigentes industriais insistiram demais na necessidade de desvalorizar o real (aumentar a cotação do dólar em real). A própria presidente Dilma Rousseff chegou a observar a interlocutores em Brasília, na semana passada, que "a indústria insiste em querer mais câmbio", como se não manifestasse o mesmo empenho em ver reduzidos outros fatores de alta.
Esse processo de aumento do suprimento de importados pela indústria não é mais episódico, dependente da conjuntura. Cada vez mais, é resposta estrutural às mudanças da economia. Ou seja, para poder produzir a custos relativamente mais baixos e garantir capacidade de competição aqui e no exterior, a indústria ficou substancialmente mais dependente dos fornecimentos externos.
Por outro lado, à medida que força a mão na desvalorização cambial e insiste em aumento do conteúdo local - na tentativa de restituir certo grau de competitividade ao produto brasileiro -, o governo passou também a criar um fator adicional de custos para a indústria: o do encarecimento em reais dos fornecimentos externos - agora mais dificilmente substituíveis por produtos fabricados aqui.
Essa é uma das razões pelas quais o câmbio administrado - na expressão recentemente usada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega - também não pode operar com bandas informais muito elásticas. Se é verdade que o nível de R$ 1,80 por dólar se tornou o novo piso cambial, como alguns observadores entendem acontecer hoje, também é verdade que esse novo piso não deve ficar muito distante do teto virtual, pelo fato de o governo ter de cuidar, ainda, de não encarecer demais os atuais custos industriais.
CONFIRA
A tabela mostra como aumentaram, em dez anos, as importações da indústria, conforme o nível de tecnologia.
Balança comercial. Os números do comércio exterior do Brasil neste início de ano continuam relativamente fracos. Em janeiro, houve déficit de US$ 1,3 milhão. Em fevereiro, superávit de US$ 1,7 milhão. E, nestas primeiras semanas de março, o superávit vai ficando mais forte, já é de US$ 728 milhões. É um início vacilante, mas que não deve se repetir à medida que as exportações de produtos agrícolas se intensificarem.