EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O choque cambial suíço

o Banco Nacional da Suíça não aguentou as pressões do mercado; Sem outra saída, jogou a toalha. Desistiu de intervir para evitar a valorização do franco suíço diante do euro

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Quinta-feira, o Banco Nacional da Suíça (BNS, banco central) não aguentou as pressões do mercado. Sem outra saída, jogou a toalha. Desistiu de intervir para evitar a valorização do franco suíço diante do euro. Essa é uma indicação dos solavancos que podem acontecer nas próximas semanas nos mercados de câmbio.

É preciso apontar os precedentes para entender o que está em jogo. Em setembro de 2011, o BNS decidiu atrelar (pegging) o franco suíço ao euro. Passou a pagar 1,20 franco por euro. O objetivo era proteger a economia suíça de uma brutal valorização do franco (em relação ao euro) a que passou a estar sujeita. Um franco mais valorizado em relação ao euro encareceria (em euros) os produtos da indústria suíça e os serviços do turismo.

 Foto: Estadão

PUBLICIDADE

No entanto, cresceu tanto o medo de desvalorização do euro que a procura de refúgios se multiplicou. E um dos principais refúgios financeiros continua sendo a Suíça. Foi tanta a demanda por francos suíços que o BNS acumulou meio trilhão de francos em moedas estrangeiras. Se mantivesse o atrelamento do franco ao euro, os estoques de moeda estrangeira aumentariam insustentavelmente. Daí a decisão anunciada na quinta, que deixou que o mercado decidisse.

A primeira reação foi de uma maxivalorização de 40% do franco suíço em relação ao euro, que acabou relativamente estabilizado ao redor dos 20% (veja o gráfico). O resultado será o que antes as autoridades monetárias da Suíça queriam evitar: encarecimento dos produtos suíços, com forte impacto sobre a indústria e sobre o turismo, justamente às vésperas do auge da temporada de inverno.

A fuga do euro (e sua desvalorização) tem a ver tanto com as turbulências causadas por questões geopolíticas (crise da Ucrânia, aumento do risco de terrorismo na Europa, risco de abandono do euro pela Grécia) como a questões econômicas. Entre elas está o perigo de deflação agora acentuada pela derrubada dos preços do petróleo e pela iminência de emissões de moeda por parte do Banco Central Europeu (BCE), decisão que provavelmente será anunciada dia 22.

Publicidade

Esse último ponto precisa ser esmiuçado. A área do euro está economicamente estagnada e a ideia agora é a de que o BCE passe a recomprar cerca de 1 trilhão de euros em títulos de dívida de países da área, com simples emissões de moeda. É o modelo do afrouxamento quantitativo (quantitative easing, QE) empreendido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

Essa operação produzirá inevitável desvalorização do euro, efeito desejável para baratear em dólares os produtos da área do euro e, assim, acionar as exportações. Tem também por objetivo sustar o processo de deflação, que, além de reduzir a arrecadação dos Estados, porque o imposto é calculado sobre o preço, adia as vendas do comércio, já que o consumidor tende a esperar que os preços baixem ainda mais para comprar.

Esse processo do BCE vai na contracorrente do que agora vai fazer o Fed, que é a reversão do afrouxamento dos anos anteriores. Isso provocará inevitáveis trancos nos mercados de moeda e de valores, cuja magnitude é de difícil previsão. (Veja, ainda, o Confira).

CONFIRA:

 Foto: Estadão

O gráfico mostra a desvalorização do euro em relação ao dólar.

Publicidade

Afrouxar e desafrouxar O afrouxamento quantitativo a ser anunciado pelo Banco Central Europeu deverá provocar algum impacto também sobre o Brasil, porque as exportações da área do euro ficarão mais baratas em reais. Ou seja, será mais um fator de redução de competitividade da indústria brasileira. Mas há um efeito cambial, em direção contrária, a levar em conta: a reversão do afrouxamento quantitativo a ser iniciado nos próximos meses pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.