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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O emprego sob pressão

Os principais indicadores do comportamento do mercado de trabalho apontam para alguma aceleração do desemprego.

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Atualização:

Há dois dias, o Ministério do Trabalho já havia divulgado as estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de junho e o que se viu foi um primeiro semestre de desempenho relativamente baixo na criação de empregos formais (com carteira registrada), o semestre de desempenho mais baixo desde 2009.

E, nesta quarta-feira, os últimos números do IBGE mostraram certa progressão do desemprego, como mostra o gráfico abaixo.

 Foto: Estadão

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São dados ainda inconclusivos porque refletem uma temporada adversa, especialmente o mês de junho, marcado por protestos e paralisações que prejudicaram a atividade econômica e a contratação de pessoal.

Independentemente dessas avaliações iniciais, o mercado de trabalho deve começar a refletir pressões de duas direções. A primeira delas é a percepção geral de que, mais uma vez, o governo Dilma não conseguirá entregar, nem neste ano nem em 2014, um crescimento muito acima dos 2%. É, por si só, um fator que freia os investimentos e, portanto, as admissões.

Em segundo lugar, como o mercado de trabalho está passando há mais de dois anos por uma situação muito próxima do pleno emprego, a mão de obra disponível é de qualificação mais baixa e, portanto, exige, para assegurar um mínimo de produtividade, mais treinamento e instrução. É também fator que conspira contra novas contratações.

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O IBGE mostrou, também, que a renda média real (descontada a inflação) cresceu pouco, apenas 0,8% em 12 meses. Esse é um fenômeno observado anteriormente a partir de outras manifestações. Trata-se da erosão do poder aquisitivo do trabalhador provocada pela alta de preços, especialmente dos alimentos, que avançaram 12,8% nos últimos 12 meses, como mostraram as estatísticas de junho da evolução do IPCA. Como a alimentação é um item essencial da cesta de consumo, sobrou menos caixa no orçamento para as demais despesas do trabalhador. Esse é um fator decisivo para explicar a força das manifestações populares de junho que se insurgiram em todo o País contra os reajustes das tarifas dos transportes coletivos.

Essas variações não parecem suficientes para alterar substancialmente a situação do mercado de trabalho, que deverá continuar relativamente aquecido, apesar da baixa velocidade da atividade econômica (avanço do PIB). Contribui para isso a baixa evolução tanto da População em Idade Ativa (mais de dez anos) quanto da Força de Trabalho (veja o Confira), ambas não crescendo mais do que 1,0% em 12 meses.

Em outras palavras, o mercado de mão de obra tende a continuar pressionado, fator que contribuirá para puxar a inflação para cima, na medida em que os salários tendem a crescer mais do que a produtividade do trabalho, situação para a qual todos os documentos do Banco Central vêm chamando a atenção.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

O gráfico mostra a variação da população economicamente ativa nos últimos dois anos, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).

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E as eleições? Qual seria o impacto da proximidade das eleições sobre o mercado de trabalho? Em princípio, depende do nível de confiança ou de incerteza que a sucessão presidencial poderia despertar e isso nem sempre tem a ver com condições objetivas. De todo modo, a falta de clareza sobre a política econômica futura também poderá inibir investimentos e contratações.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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