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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O Fed ganha tempo

O mercado financeiro global, que contava com a progressiva escassez e, por conta disso, vinha provocando altas antecipadas do dólar perante as demais moedas e ante as commodities, teve de rever subitamente seu jogo

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Quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) adiou seu projeto de retirada de dólares dos mercados, por meio da revenda de títulos que detém em carteira.

Este foi o último numa sucessão de adiamentos. O início dessa operação foi previsto para setembro do ano passado. Depois, ficou para o primeiro trimestre deste ano. Agora, sabe-se que não sairá antes de setembro ou outubro. A vacilação do Fed mostra como é difícil de reverter uma operação não convencional de emissão de moeda. Os grandes bancos centrais, que recorreram a expedientes dessa natureza para enfrentar a crise, continuam em mares nunca dantes mapeados.

Yellen. Mares nunca mapeados. Crédito da foto: Joshua Roberts/Reuters Foto: Estadão

Com o anúncio do Fed, o mercado financeiro global, que contava com a progressiva escassez e, por conta disso, vinha provocando altas antecipadas do dólar perante as demais moedas e ante as commodities, teve de rever subitamente seu jogo. Como parte do mesmo movimento, os juros dos títulos denominados em dólares também vinham subindo.

Pelo que se pode apreender das declarações da presidente do Fed, Janet Yellen, duas foram as razões mais importantes para o novo adiamento do início do programa. A primeira tem a ver com os efeitos sobre a economia dos Estados Unidos de uma progressiva alta do dólar que já estava no radar de todos. São eles: redução das exportações e menos inflação. A principal consequência da queda das exportações seria uma certa redução da atividade produtiva, que já vinha frágil. E a tendência a uma retração ainda maior da inflação (com perspectiva de deflação) seria fator adicional que concorreria para o adiamento do consumo, porque os compradores poderiam esperar por preços mais baixos no futuro. O nível recorde negativo dos preços do petróleo, diante da perspectiva de que a baixa continue por um bom tempo mais, tende a acentuar esses fatores.

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Se começasse agora, o processo de retirada dos dólares teria de prosseguir mais ou menos no mesmo ritmo. Mas, se nesse meio tempo a recessão voltasse, o Fed teria de estar em condições de combatê-la, situação que exigiria uma volta atrás e novas injeções de dólares na economia. Para fugir de possível situação tipo puxa-estica, o Fed optou por comprar tempo. Melhor esperar que o crescimento econômico e o mercado de trabalho se consolidem.

Na batalha entre o mar e a rocha, a economia brasileira é um barco avariado. É fustigada não porque seja vítima de uma guerra de moedas, como entendia o então ministro Guido Mantega, mas porque está desarrumada.

Nesta quinta-feira, o dólar voltou a dar um pinote no câmbio interno, porque a confiança na condução da economia pela presidente Dilma é um balão em queda, pois está perdendo gás. Também nesta quinta-feira, a Confederação Nacional da Indústria mostrou acentuada deterioração das expectativas da indústria. A intenção de investir vai mergulhando, como mostra o gráfico no Confira.

Enquanto isso, o principal partido do governo, o PT, parece rachado, como sugere o vazamento de documentos confidenciais e rebeldias da bancada no Congresso. Até agora, a militância não engoliu o programa de ajuste do ministro Joaquim Levy.

CONFIRA

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 Foto: Estadão

Esta é a evolução da intenção de investimento da indústria.

Cada um por si O diário La Nación, de Buenos Aires, publicou nesta quinta-feira a informação de que o novo governo Tabaré Vásquez, do Uruguai, começa a pressionar o Mercosul para que abra a possibilidade de que seus membros negociem acordos comerciais em separado. Na condição de união aduaneira (unidade de políticas de comércio), os tratados do Mercosul proíbem essa opção. Os acordos entre Argentina e China, no entanto, já furaram essas cláusulas.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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