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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O futuro do rombo

O rombo das contas externas cresce sem parar e os economistas de todas as tendências se perguntam até onde pode ir essa situação. Foi o ponto central dos debates do 7.º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, que terminou terça-feira em São Paulo.

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Atualização:

Esse rombo aí é o déficit nas contas correntes, pedaço do balanço de pagamentos que reflete o saldo (negativo) entre o que o País tem a receber e a pagar no exterior, em mercadorias, serviços e transferências, excetuados os fluxos de capitais.

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No passado, sempre que ocorria um fator externo negativo, como os choques do petróleo (1973 e 1979), o déficit nas contas correntes que se seguia produzia fuga de capitais e a economia brasileira se quebrava como taça que cai da mesa. De 2002 a 2007, o Brasil tirou proveito do período de bonança global e ostentou superávits. Mas os rombos são crescentes (veja o gráfico).

O economista e consultor Paulo Rabello de Castro não tem dúvida quanto ao desfecho. Bons resultados externos dependem cada vez mais dos altos preços das commodities que o País exporta. Mas a alta de hoje não é sustentável e o déficit vai se aprofundar, a menos que tudo mude. Yoshiaki Nakano, da FGV, e José Luis Oreiro, da UnB, acompanham o prognóstico de Rabello de Castro. E se põem a acionar luzes amarelas.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa que essas avaliações são pessimistas. "É um déficit temporário que será rapidamente revertido", diz. Mantega observa que as fugas de capitais, que no passado quebraram o Brasil, só aconteceram porque a economia estava desequilibrada e porque não dispunha de reservas externas, que hoje estão em US$ 260 bilhões.

O ministro não chega a aprofundar as razões que o levam a apostar na transitoriedade desse rombo. Mas, além do cacife em reservas, aponta para pelo menos outras três: (1) a crise externa, que fez as empresas estrangeiras instaladas no Brasil elevarem a remessa de lucros e dividendos (de US$ 25,2 bilhões em 2009), vai ser revertida mais cedo ou mais tarde; (2) as exportações continuam crescendo cerca de 33% ao ano; e (3) as importações não aumentarão ao ritmo de 40% ao ano, porque o consumo será mais moderado.

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Nas vezes em que se manifestou sobre o assunto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, se negou a fazer previsões de longo curso. Preferiu dizer que, por enquanto, esse déficit não assusta, porque vem sendo confortavelmente financiado pela entrada de capitais, movimento que tem tudo para continuar. Um dos fatores que garante a continuidade desse afluxo, aponta ele, é a demonstração de resistência (resiliência) da economia brasileira a crises externas.

O que não está sendo dito mais claramente é que déficit nas contas correntes é outro nome macroeconômico para excesso de consumo e este tem a ver com a leniência do governo federal para com as contas públicas. O atual superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) está sendo construído com truques contábeis. Não é confiável.

A variável-chave para impedir a deterioração do déficit é a obtenção de um novo equilíbrio das despesas do governo, objetivo que vai depender de quem estiver no comando da aeronave a partir de janeiro.

Confira

Fed, valei-nos. A falta de dados novos positivos sobre o comportamento da economia dos Estados Unidos está levando o mercado financeiro a olhar para o Fed (o banco central americano) em busca de socorro.

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Mais recursos? Mas a ata da última reunião do Fed mostrou mais discordância do que concordância sobre a necessidade de reinjetar recursos na economia.

Divergências. Alguns membros do Comitê receiam que os resultados dessa reinjeção seriam insignificantes. Outros, que o Fed estaria passando "sinal inapropriado aos investidores sobre a disposição em fazer novas recompras de títulos em larga escala".

Fica pra depois. Conclusões: (1) precisa piorar muito a situação da economia para que o Fed se mostre disposto a injetar dinheiro novo e, (2) embora apenas um membro do Comitê tenha votado contra, não é fácil arrancar dele medidas não convencionais.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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